E agora eu estou no sal novamente! Quero só ver como é que eu vou conseguir destrinchar a quantidade assombrosa de música vocal de câmara e de teatro do século XIX.
Por falar em quantidade assombrosa, no post anterior eu esqueci de comentar que, apesar de ter mostrado obras (relativamente) desconhecidas, todas elas eram de compositores famosos até hoje, e deixei de escanteio montanhas de compositores que atualmente só são conhecidos por meia dúzia de pessoas.
Você se lembra daquele filme? Aquele! Com aquele diretor que foi casado com aquela atriz, que fez aquele filme que passou naquele cinema e que a gente viu naquele dia em que nós tínhamos tinha ido à casa daquele amigo daquele seu ex-namorado! Aquele filme, onde tinha aquela música daquele compositor, o Luigi Arditi, lembra?
Poizé... E o Arditi, dentre os praticamente desconhecidos, é um dos mais famosos! Alguns outros também estão incluídos nessa categoria de "famosos": Theodor Kirchner, Giuseppe Bottesini, Joseph Joachin, Jean-Baptiste Arban, Franz von Suppé, Charles-Valentin Alkan, Fanny Mendelssohn (irmã do Felix), Alexander Dargomyzhsky, Ferdinand David, etc, etc, etc... Sem contar aqueles que morreram (provavelmente) para todo o sempre!
Todo mundo, àquela época (todo mundo com certo poder aquisitivo, claro), tinha um piano em casa. Os que não tinham piano, tinham um violino, uma viola, um cello, uma flauta. Aqueles que não tinham nem isso, pelo menos tinham boca e podiam cantar! Mais importante ainda: NINGUÉM TINHA VITROLA, e todo mundo queria ouvir música em casa. Resultado: música de câmara, tanto puramente instrumental quanto vocal, era feita a rodo; você comprava um peixe e ele vinha embalado numa partitura para voz e piano. Só na Alemanha já temos as centenas de canções do Schubert, mais as canções de Schumann e Brahms, e esse trio já seria suficiente para encher o mundo com boa música; mas ainda temos toneladas de canções francesas, inglesas, espanholas, russas, tchecas, húngaras, norte-americanas, brasileiras, argentinas, mexicanas, finlandesas, irlandesas, polonesas, etc, etc, etc.
Como ninguém tem tempo ou paciência para ouvir tudo e tentar chegar a alguma conclusão sobre o que está além do patamar de meramente sofrível, não serei eu que me aventurarei, e teremos que nos contentar com aqueles compositores que melhor resistiram (por qualquer motivo) à passagem do tempo. Claro que, como sempre, vou tentar mostrar coisas menos "populares", mas não será possível sair muito do círculo central do Paraíso...
Como ninguém tem tempo ou paciência para ouvir tudo e tentar chegar a alguma conclusão sobre o que está além do patamar de meramente sofrível, não serei eu que me aventurarei, e teremos que nos contentar com aqueles compositores que melhor resistiram (por qualquer motivo) à passagem do tempo. Claro que, como sempre, vou tentar mostrar coisas menos "populares", mas não será possível sair muito do círculo central do Paraíso...
Então, sem mais delongas!
Um dos gêneros mais comuns de música vocal de câmara "para se fazer em casa" era, obviamente, aquela para piano e voz. Nós praticamente só ouvimos canções para piano e uma voz, mas pequenas canções para piano e 2, 3, 4 vozes eram extremamente comuns:
"Aus Meinen Tränen Spriessen", da Fanny Mendelssohn, para piano e duas vozes:
Aus meinen Tränen sprießen
Viel blühende Blumen hervor,
Und meine
Seufzer werden
Ein
Nachtigallenchor.
Und wenn du
mich lieb hast, Kindchen,
Schenk' ich
dir die Blumen all',
Und vor
deinem Fenster soll klingen
Das Lied
der Nachtigall.
E, em inglês:
From my
tears sprout forth
Many
blooming flowers,
And my
sighing become joined with
The chorus
of the nightingales.
And if you
love me, dear child,
I will send
you so many flowers;
And before
your window should sound
The song of
the nightingale.
Obviamente todos conhecem inúmeras canções (lieder) do Schubert, mas suas canções para mais de uma voz são bem menos conhecidas, apesar de serem também lindas, como a "Licht und Liebe", D. 352, também para piano e duas vozes:
Liebe ist ein süßes Licht.
Wie die Erde strebt zur Sonne
Und zu jenen hellen Sternen
In den weiten blauen Fernen,
Strebt das Herz nach Liebeswonne;
Denn sie ist ein süßes Licht.
Sieh, wie hoch in stiller Feier
Droben helle Sterne funkeln:
Von der Erde fliehn die dunkeln,
Schwermutsvollen trüben Schleier.
Wehe mir! [doch]1 wie so trübe
Fühl' ich tief mich im Gemüte,
Das in Freuden sonst erblüte,
Nun vereinsamt, ohne Liebe.
Liebe ist ein süßes Licht.
Wie die Erde strebt zur Sonne
Und zu jenen hellen Sternen
In den weiten blauen Fernen,
Strebt das Herz nach Liebeswonne:
Liebe ist ein süßes Licht.
Versão em inglês:
Love is a sweet light
As the Earth yearns for the su
And for each bright star
In the wide blue faraway
So yearns the heart for the joy of Love
For it is a sweet light.
See how high, in silent celebration
Far over there, bright stars sparkle!
From the earth they flee, [from] that dark
Confusion-filled, troubled veil.
Woe is me, how troubled
I feel, deep in my soul,
Which in joy once bloomed;
Now made desolate, without Love.
Love is a sweet light
As the Earth yearns for the sun
And for each bright star
In the wide blue faraway
So yearns the heart for the joy of Love:
Love is a sweet light.
Dentre os exemplos de outras combinações de vozes que Schubert usava temos "Ständchen" (Serenata), D. 920, para piano, contralto e coro masculino:
Zögernd, leise,
In des Dunkels nächt'ger Hülle
Sind wir hier.
Und den Finger sanft gekrümmt,
Leise, leise,
Pochen wir
An des Liebchens Kammerthür.
Doch nun steigend,
Schwellend, hebend,
Mit vereinter Stimme, laut
Rufen aus wir hochvertraut:
Schlaf du nicht,
Wenn der Neigung Stimme spricht!
Sucht' ein Weiser nah und ferne
Menschen einst mit der Laterne;
Wie viel seltner dann als Gold,
Menschen uns geneigt und hold?
Drum, wenn Freundschaft, Liebe
spricht,
Freundin, Liebchen, schlaf du nicht!
Aber was in allen Reichen
Wär' dem Schlummer zu vergleichen?
Drum statt Worten und statt Gaben
Sollst du nun auch Ruhe haben.
Noch ein Grüßchen, noch ein Wort,
Es verstummt die frohe Weise,
Leise, leise,
Schleichen wir uns wieder fort!
E, em inglês:
Softly, quietly,
in the dark silence of night
we approach.
With a gently bent finger,
quietly, quietly,
we knock
on darling's door.
Presently,
rising, swelling,
lifting our voices, loudly
we exclaim, intimately:
Do not sleep,
when love's voice speaks.
Did not a wise man once look high
and low
for humans with a lantern?
How much rarer than gold
are people who like us?
So when friendship, love are
speaking,
dearest, darling, don't you sleep.
But what in all the world
could be compared to slumber?
So instead of words and gifts
you shall have your peace.
One more greeting, one more word,
the cheerful song falls silent;
softly, quietly,
we slink away.
Quer escutar mais uma canção diferente? Que tal, também do Schubert, a lindíssima "Der Hirt auf dem Felsen" (O Pastor Sobre o Rochedo), D. 965, para voz, piano e clarineta?
Wenn auf dem höchsten Fels ich steh',
In's tiefe Tal hernieder seh',
Und singe.
Fern aus dem tiefen dunkeln Tal
Schwingt sich empor der Widerhall
Der Klüfte.
Je weiter meine Stimme dringt,
Je heller sie mir wieder klingt
Von unten.
Mein Liebchen wohnt so weit von mir,
Drum sehn' ich mich so heiß nach ihr
Hinüber.
In tiefem Gram verzehr ich mich,
Mir ist die Freude hin,
Auf Erden mir die Hoffnung wich,
Ich hier so einsam bin.
So sehnend klang im Wald das Lied,
So sehnend klang es durch die Nacht,
Die Herzen es zum Himmel zieht
Mit wunderbarer Macht.
Der Frühling will kommen,
Der Frühling, meine Freud',
Nun mach' ich mich fertig
Zum Wandern bereit.
E em inglês:
When, from the highest rock up here,
Down to the valley deep I peer,
And sing,
Far from the valley dark and deep
Echoes rush through, in upward sweep,
The chasm.
The farther that my voice resounds,
So much the brighter it rebounds
From under.
My sweetheart dwells so far from me,
I hotly long with her to be
O'er yonder.
I am consumed in misery,
I have no use for cheer,
Hope has on earth eluded me,
I am so lonesome here.
So longingly did sound the song,
So longingly through wood and night,
Towards heav'n it draws all hearts along
With unsuspected might.
The Springtime is coming,
The Springtime, my cheer,
Now must I make ready
On wanderings to fare.
O problema, agora, será decidir como continuar com o assunto; quase tudo o mais parecerá feio, em comparação...
Exagero meu, como sempre, pois há muitos outros compositores que conseguem competir com Schubert neste gênero (apesar de quase nunca conseguirem ultrapassá-lo). Dentre esses compositores, alguns dos melhores e mais conhecidos são Brahms e Schumann (como eu já disse), porém nós os deixaremos de lado (por hora) e iremos procurar coisas menos conhecidas.
Exagero meu, como sempre, pois há muitos outros compositores que conseguem competir com Schubert neste gênero (apesar de quase nunca conseguirem ultrapassá-lo). Dentre esses compositores, alguns dos melhores e mais conhecidos são Brahms e Schumann (como eu já disse), porém nós os deixaremos de lado (por hora) e iremos procurar coisas menos conhecidas.
Dentre os alemães "famosos", um dos principais é o Hugo Wolf, que, infelizmente, frequenta mais os livros de história da música que o repertório vivo. Não consigo entender o porquê... Todos os músicos o adoram, mas poucos se dignam a apresentá-lo.
Wolf tinha o costume de agrupar suas canções em livros, e um deles é o Mörike-Lieder, sobre poemas de Eduard Mörike. Estas são as duas primeiras canções deste livro, "Der Genesene and die Hoffnung" e "Der Knabe und das Immlein" (quem quiser acompanhar o texto, tem todos eles AQUI):
Wolf tinha o costume de agrupar suas canções em livros, e um deles é o Mörike-Lieder, sobre poemas de Eduard Mörike. Estas são as duas primeiras canções deste livro, "Der Genesene and die Hoffnung" e "Der Knabe und das Immlein" (quem quiser acompanhar o texto, tem todos eles AQUI):
Nós já ouvimos um pouco da chanson francesa quando falamos do Henri Duparc, que ainda pertence ao Romatismo, porém não precisaremos dele hoje, pois o repertório francês desse período deve ser no mínimo tão grande quanto o alemão. E mais divertido também, eu acho!
Eu queria colocar exemplos menos conhecidos, mas não vou resistir à tentação de incluir a "Chanson d'amour", do Gabriel Fauré, umas das mais "populares", e que eu adoro:
J'aime tes yeux, j'aime ton front,
Ô ma rebelle, ô ma farouche,
J'aime tex yeux, j'aime ta bouche
Où mes baisers s'épuiseront.
J'aime ta voix, j'aime l'étrange
Grâce de
tout ce que tu dis,
Ô ma rebelle, ô mon cher ange,
Mon enfer et mon paradis!
J'aime tout ce qui te fait belle,
De tes pieds
jusqu'à tes cheveux,
Ô toi vers qui montent mes voeux,
Ô ma farouche, ô ma rebelle
Batido, mas lindimáis!
Outra chanson linda do Fauré é "Après un rêve":
Atualização: desapareceram do YouTube, e não sobrou nenhuma...
Quem quiser, novamente, pode acompanhar os textos: 1º, 2º, 3º, 4º, 5º.
O snow, which sinks so light,
Já que chegamos à beiradinha da Europa, vamos pular para o outro lado do Atlântico, antes que este post vire um livro, e ouvir um pouquinho dos brasileiros Alberto Nepomuceno e Carlos Gomes:
Nepomuceno, "Coração Triste", sobre poema de Machado de Assis:
Também dele, "Cantilena", sobre poema de Henrique Coelho Neto:
E ainda uma terceira, "Trovas", op. 29, nº 1, com poema de Osório Duque Estrada:
Nosso mais importante compositor do século XIX, Carlos Gomes, escreveu pouquíssimas canções de câmara, mas "Quem Sabe?", sobre poema de Francisco Bittencourt Sampaio, chegou a ser tão popular que praticamente migrou para a categoria "música folclórica":
Também tem a singela e linda "Suspiro d'Alma", sobre um poema de Almeida Garret:
(Apesar de o poema completo ter três estrofes, em todas as versões que eu conheço só se canta a primeira, não sei porquê. Gostaria de conhecer o original (se é que existe), só para saber se é para ser assim mesmo ou se é para se cantar o poema inteiro, simplesmente repetindo a música para as demais estrofes.)
Apesar de já ser do século XX, a música do também brasileiro Joaquim Antônio Barrozo Netto ainda é completamente romântica, então acho que podemos inclui-lo aqui, com sua linda "Canção da Felicidade":
Joaquim Antonio Barrozo Netto é outra criatura que praticamente sumiu do mapa de compositores, e encontrar alguma coisa sobre ele, mesmo no Gúgou, é difícil, pois nem mesmo o seu nome costuma aparecer correto: às vezes aparece Barroso Neto, ou Barrozo Neto, ou Barroso Netto. Ele sobrevive, principalmente, por conta dos pianistas, devido às inúmeras edições de suas revisões de livros de estudo de piano (do Czerny, por exemplo), que todo aluno de piano já encontrou pela frente.
Não falamos até agora dos italianos, pois, durante o século XIX, eles só pareciam interessados em ópera, e tudo o mais foi relegado a segundo (ou terceiro, ou quarto) plano. Um dos poucos que ainda sobrevivem, na música vocal de câmara, é justamente um dos mais famosos compositores operísticos, o Gioachino Rossini.
As três canções de La Regata veneziana são apenas um pequeno exemplo de suas muitas canções:
Fora Rossini, pouca coisa mais sobrevive fora da Itália. Apesar de tudo, algumas das canções mais populares do planeta, por incrível que pareça, são "Romântico-italianas", apesar das datas (relativamente) recentes. Com vocês, a canção de 1898, do compositor Eduardo di Capua:
E a canção de 1904, de Fermo Dante Marchetti, em sua versão original francesa:
E na versão que fez sucesso mundial (a primeira de muitas), em inglês:
Mas acabamos saindo do assunto música de câmara, e interromperemos por hoje nossa programação!
Outra chanson linda do Fauré é "Après un rêve":
Dans un sommeil que charmait ton
image
Je rêvais le bonheur, ardent mirage;
Tes yeux étaient plus doux, ta voix
pure et sonore
Tu rayonnais
comme un ciel éclairé par l'aurore;
Tu
m'appelais, et je quittais la terre
Pour
m'enfuir avec toi vers la lumière;
Les cieux
pour nous entr'ouvraient leurs nues;
Splendeurs
inconnues, lueurs divines entrevues...
Hélas,
hélas, triste réveil des songes !
Je t'apelle,
ô nuit, rends-moi tes mensonges;
Reviens, reviens radieuse
Reviens, ô nuit mystérieuse
Ou, ainda, "Mandoline":
Les donneurs
de sérénades
Et les
belles écouteuses
Échangent
des propos fades
Sous les ramures chanteuses.
C'est Tircis et c'est Aminte,
Et c'est l'éternel Clitandre,
Et c'est Damis qui pour mainte
Cruelle [fait]1 maint vers tendre.
Leurs
courtes vestes de soie,
Leurs
longues robes à queues,
Leur élégance, leur joie
Et leurs molles ombres bleues,
Tourbillonnent dans l'extase
D'une lune rose et grise,
Et la mandoline jase
Parmi les
frissons de brise.
Acho que já deu para notar que eu gosto "um pouco" do Fauré, né? Confesso que também adoro uma criatura meio esquisitinha, Emmanuel Chabrier, com suas canções "Joli Dragon", "Chants d'oiseaux", "Villanelle des petits canards", "Ballade des gros dindons", e otras cositas más. Adoro, mas é quase impossível encontrar alguma gravação (ou vídeo) que preste, e a única versão legal que encontrei é está aqui, para a "Pastorale des cochons roses":
Chabrier parece um pouco o "tio" do Eric Satie, que, por sinal, o adorava. Sua música de câmara quase nunca é muito séria, mas é sempre bem feita, divertida, interessante. Também tem as coisas sérias, mas estas ficam reservadas para obras de maior envergadura, como óperas e música orquestral, da qual falaremos outro dia (talvez).
Mas este post já está grande demais, e ainda estamos na França! Pulemos, pois, para o outro extremo da Europa, para nos encontrarmos com Modest Mussorgsky e suas deslumbrantes Canções e danças da morte:
(Quem quiser o texto original em russo - mas também tem versões em outros idiomas - ele pode ser encontrado AQUI.)
O Mussogsky devia ser um pessoa "muito pra cima"! Um de seus outros ciclos de canções tem o título - muito apropriado - de Sem Sol, e é o "Hino Oficial da Depressão", tão "feliz" quanto as canções daí de cima:
Um pouquinho mais à esquerda do mapa temos o Norueguês Edvard Grieg, com seu cliclo Noruega, op. 58, cinco canções sobre poemas de John Olaf Paulsen, para voz e piano:
Atualização: desapareceram do YouTube, e não sobrou nenhuma...
Quem quiser, novamente, pode acompanhar os textos: 1º, 2º, 3º, 4º, 5º.
Existe um outro ciclo dele, Romances e Canções, bem legal, onde a maioria dos poemas são do Hans Christian Andersen, mas não consegui encontrá-lo em lugar nenhum...
E, para não dizer que a Inglaterra nunca fez nada de interessante entre Henry Purcell e Benjamin Britten, vamos ouvir "The Snow", para coro feminino, 2 violinos e piano. Geralmente essa canção é apresentada em concerto, no teatro, mas eu a incluiria em "música de câmara". Enfim... ela está naquela zona nebulosa, e minha opinião vale tanto (ou tão pouco) quanto qualquer outra. Não importa o que seja, pois continuará sempre bonita:
O snow, which sinks so light,
Brown earth is hid from sight,
O soul, be thou as white,
O soul, be thou as white as snow,
O snow, which falls so slow,
Dear earth quite warm below;
O heart, so keep thy glow,
Beneath the snow.
O snow, in thy soft grave,
Sad flowers the winter brave;
O heart, so soothe and save, as does
the snow.
The snow must melt, must go,
Fast as water flow.
Not thus, my soul, O sow,
Thy gifts to fade like snow.
O snow, thou'rt white no more,
Thy sparkling too, is o'er;
O soul, be as before, was bright the
snow.
Then as the snow all pure,
O heart be, but endure;
Through all the years full sure,
Not as the
snow.
Já que chegamos à beiradinha da Europa, vamos pular para o outro lado do Atlântico, antes que este post vire um livro, e ouvir um pouquinho dos brasileiros Alberto Nepomuceno e Carlos Gomes:
Nepomuceno, "Coração Triste", sobre poema de Machado de Assis:
Também dele, "Cantilena", sobre poema de Henrique Coelho Neto:
E ainda uma terceira, "Trovas", op. 29, nº 1, com poema de Osório Duque Estrada:
Nosso mais importante compositor do século XIX, Carlos Gomes, escreveu pouquíssimas canções de câmara, mas "Quem Sabe?", sobre poema de Francisco Bittencourt Sampaio, chegou a ser tão popular que praticamente migrou para a categoria "música folclórica":
Também tem a singela e linda "Suspiro d'Alma", sobre um poema de Almeida Garret:
(Apesar de o poema completo ter três estrofes, em todas as versões que eu conheço só se canta a primeira, não sei porquê. Gostaria de conhecer o original (se é que existe), só para saber se é para ser assim mesmo ou se é para se cantar o poema inteiro, simplesmente repetindo a música para as demais estrofes.)
Apesar de já ser do século XX, a música do também brasileiro Joaquim Antônio Barrozo Netto ainda é completamente romântica, então acho que podemos inclui-lo aqui, com sua linda "Canção da Felicidade":
Joaquim Antonio Barrozo Netto é outra criatura que praticamente sumiu do mapa de compositores, e encontrar alguma coisa sobre ele, mesmo no Gúgou, é difícil, pois nem mesmo o seu nome costuma aparecer correto: às vezes aparece Barroso Neto, ou Barrozo Neto, ou Barroso Netto. Ele sobrevive, principalmente, por conta dos pianistas, devido às inúmeras edições de suas revisões de livros de estudo de piano (do Czerny, por exemplo), que todo aluno de piano já encontrou pela frente.
Não falamos até agora dos italianos, pois, durante o século XIX, eles só pareciam interessados em ópera, e tudo o mais foi relegado a segundo (ou terceiro, ou quarto) plano. Um dos poucos que ainda sobrevivem, na música vocal de câmara, é justamente um dos mais famosos compositores operísticos, o Gioachino Rossini.
As três canções de La Regata veneziana são apenas um pequeno exemplo de suas muitas canções:
(O texto das canções estão AQUI)
Fora Rossini, pouca coisa mais sobrevive fora da Itália. Apesar de tudo, algumas das canções mais populares do planeta, por incrível que pareça, são "Romântico-italianas", apesar das datas (relativamente) recentes. Com vocês, a canção de 1898, do compositor Eduardo di Capua:
E a canção de 1904, de Fermo Dante Marchetti, em sua versão original francesa:
E na versão que fez sucesso mundial (a primeira de muitas), em inglês:
Mas acabamos saindo do assunto música de câmara, e interromperemos por hoje nossa programação!
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