Poizé... Fui, junto com alguns amigos, assistir à Barca di Venetia per Padova, apresentada no CCBB. Uma espécie de "ópera de madrigais": uma sequência de madrigais polifônicos que, quando apresentados juntos, contam uma história. Essa a que assistimos é de autoria de Adriano Banchieri.
Minha opinião, caso interesse a alguém: a música é bonita, sem chegar a ser excepcional (Nada contra. Adoro filmes B, por exemplo!). Mesmo assim, não deu para entender direito o que a música realmente é, por alguns motivos:
- Era para contar uma história, não era? Portanto, a presença de um libreto, na minha opinião, seria indispensável. Ao invés de gastarem 4 páginas com a foto dos músicos, por que não imprimiram, em seu lugar, o texto dos madrigais? Ao invés disso, apenas uma foto (enorme!), que ficou parecendo poster de time de futebol (e tão útil quanto, se você não torcer para esse time específico). Aproximadamente 40 minutos de música, onde você conseguia distinguir apenas uma outra palavra solta, acompanhada por 40 minutos de vídeo projetado sobre uma tela - o que pode ser até interessante. Mas, se já tinha um vídeo, por que não colocaram legenda no próprio vídeo? Tá certo que, à essa altura do campeonato - por falar em futebol - ninguém mais precisa de legenda para, por exemplo, Carmen, do Bizet. Mas Barca..., venhamos e convenhamos, não está entre as 10 mais conhecidas. Se é para apresentar coisa nova à platéia (apoio sempre essa iniciativa!), faça direito!
- Mais "importantemente": musicalmente também não convenceu. Andamentos todos muito similares (alguns muito lentos, inclusive), fazendo quase todos os madrigais soarem muito parecidos. Acompanhamento instrumental carregado demais, também sem muita variação, o que também ajudava a fazer tudo soar igual.
- 95% dos madrigais foram interpretados como uma grande comédia. Obviamente era uma comédia, mas, mesmo assim, comédia + comédia + comédia + comédia + comédia + comédia (geralmente é) = caricatura. Juro que eu ficava o tempo todo me lembrando do filme O Máscara, com o Jim Carey: ao invés de um festival de caras e bocas, tivemos um festival de vozes forçadamente distorcidas o tempo todo, principalmente da primeiro soprano, a ponto de ficarmos em dúvida - eu fiquei, pelo menos - se a voz dela era feia mesmo ou se era apenas "forçação de barra" em excesso.
Na minha modesta (???) opinião, esqueceram da música em si... Deve ter sido muito divertido montar o espetáculo, e me pareceu claro que os músicos estavam se divertindo. O resultado, porém, ficou parecendo (de novo: para mim, ao menos) meio mal-pensado, tipo "Vamos fazer assim porque é divertido, e vamos colocar nosso instrumentos renascentistas chiques tocando o tempo todo, pra ficar mais legal", sem nenhuma razão musicalmente mais profunda para os excessos. Me fez lembrar da Cida Moreira e sua interpretação "palavra a palavra", que também acho caricata e excessiva:
Mais uma crítica: a chamada do espetáculo era "O diferencial da montagem é a contextualização da música renascentista com o olhar da estética contemporêna". Contextualização? Estética contemporânea? Eu devo ser muito burro, pois não notei nada disso... a não ser que 10 minutos de vídeo mostrando uma estrada seja um tipo de "contextualização": vai ver deram um upgrade no barquinho e ele virou um ônibus, e agora é possível fazer o trajeto de Veneza a Pádova por terra, sei lá...
Nota final: 7. Nota 10 pela decisão de se fazer algo diferente (eu sempre reclamo que aqui em Brasília temos pouquíssimas oportunidades para isso!), mas nota 4 pela execução da ideia (o que também é recorrente em Brasília: ideias ótimas, execuções descuidadas).
Nota final: 7. Nota 10 pela decisão de se fazer algo diferente (eu sempre reclamo que aqui em Brasília temos pouquíssimas oportunidades para isso!), mas nota 4 pela execução da ideia (o que também é recorrente em Brasília: ideias ótimas, execuções descuidadas).
Enfim... Como eu já disse inúmeras vezes, eu sou chato demais!
Pra terminarmos, e para mostrar que, apesar de a música não ser fantástica, podia ter sido um espetáculo muito melhor, alguns vídeos. Notem, principalmente, as grandes diferenças de um madrigal para outro - diferenças no tratamento vocal, instrumental e interpretativo - resultando em algo MUITO mais interessante:
Versão encenada, com legendas em francês (só para o narrador, infelizmente):
E uma versão em concerto (imagino que seja, pois não tem imagem nenhuma), que eu gosto mais, musicalmente falando. Ouça e me diga o que achou! E se você ouvir até o final ganha de brinde o madrigal Zefiro torna, do meu grande amigo Claudio Monteverdi:
Pe-Ésse: Não descobri o texto dos madrigais em lugar nenhum...
Pe-Ésse 2: Uma leitora (entre os 3,5 que costumam ler este blog) descobriu o libreto, em formato do Word, AQUI. Obrigado!
Adorei a crítica. Concordo com tudo: a ausência do libreto (que praticamente matou a oportunidade a todos de conhecer mais o gênero madrigal), a voz irritante da primeira soprano (possivelmente o que mais me incomodou), a concepção equivocada do cenário (pelamordedeus, neguinho quer ser moderno e contemporâneo e desanda a fazer merda!), a monotonia dos andamentos etc. 7 ainda é uma nota muito generosa. Dou 5 e olhe lá!
ResponderExcluirMuito bem Helcio. Ótima critica, muito bem fundamentada e feita rapidamente. Vc daria um bom jornalista musical.
ResponderExcluirAh! Adorei a foto do mal cuidado Museu da República. Ótima idéias, mal executadas e muito super faturadas...
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