Não sou de fazer isso, mas não resisti:
Antes de continuarmos, vamos ouvir alguns exemplos dessa "escola" assim chamada New Complexity:
Terrain, para violino solo e grupo de câmara, do inglês Brian Ferneyhough:
English Country Tunes: "Green Meadows", do também inglês Michael Finnissy:
English Country Tunes: "Green Meadows", do também inglês Michael Finnissy:
Ti.re-Ti-ke-Dha, do escocês James Dillon:
E preste atenção!, eu adoro música contemporânea! Espero que minha repulsa a este tipo de "erro" não seja puro preconceito meu. Já li muita coisa, muitas opiniões, muitas considerações, contra e a favor de tal música (A maioria das coisas que li - até hoje, pelo menos - está dentro da categoria "Pô! Isso é espetacularmente importante e significativo!").
Uma opinião bastante comum é a de que os compositores desta "sei lá o quê" estão buscando, através dessa complexidade, uma maior dedicação e esforço por parte dos intérpretes, e, consequentemente, uma maior valorização dos mesmos. Minha crítica: sinto muito... vocês estão valorizando apenas os intérpretes de suas próprias músicas, claro, pois a interpretação de todo o resto da música, parece, pode ficar relegada a intérpretes que, obviamente, não têm dedicação suficiente.
Também tenho a impressão de que - no fundo, no fundo - nem nestes poucos intérpretes vocês confiam! Se é necessário tanto esforço, tanta limitação, tantas instruções diferentes e simultâneas, para manter o intérprete atento ao que está fazendo, não deve ser porque confiam muito neles... Juro que fica parecendo - para mim, ao menos - que foram criadas inúmeras cercas eletrificadas, de todos os modelos e tamanhos imagináveis, para manter as galinhas caminhando na trilha "certa", pois elas, obviamente, não têm competência suficiente para descobrirem, sozinhas, para onde ir.
Isso combina com outra crítica a favor que frequentemente encontro: "Essa música soa como improvisação, mas ela é feita com esse intuito mesmo. Ao contrário de ser aleatória, esta música é feita para obrigar o intérprete a oferecer um tipo de improvisação controlada, já que não se pode contar com a seriedade da intenção do intérprete e deixá-los livre para improvisar por conta própria". Juro! Li várias vezes essa mesma opinião, em diversos textos: não se pode confiar no intérprete, pois a maioria, claro, não é confiável.
Outra opinião comum a respeito dessas obras é a seguinte: É importante essa dificuldade extrema, pois é uma maneira de se transmitir "fisicamente" o tamanho da exigência feita ao intérprete. É uma maneira de o intérprete mostrar visualmente a complexidade da música.
De novo, minha crítica, a dois pontos dessa opinião:
- Música visual? Feita para quê? Para acompanhar um balé escrito? Ou como trilha sonora de um filme esculpido em mármore? Me parece que há alguma confusão nessa tentativa de visualização da música: além de não confiarem nos intérpretes, também me parece que não confiam nem na própria música e seus recursos "meramente" auditivos...
- Elas (essas obras) só são realmente complexas quando você está vendo a partitura. Se depender apenas do seu ouvido, ela soa realmente aleatória, muito pouco complexa, na verdade. Quer ver? Vamos fazer um teste: ouça este "Estudo Transcendental nº 5" sem ver a partitura. Feche os olhos!
Atualização: sumiu do YouTube, e não sobrou mais nenhum desses estudos com a partitura, saco. Mas, se alguém quiser ouvir os Concertos Transcendentais 1 a 4, aqui vão eles:
Agora ouça novamente, tentando ler a partitura.
(Pode usar a primeira partitura lá de cima, só para ter uma ideia da complexidade da escrita)
Tá vendo? A complexidade da escrita musical não parece ter muito efeito sobre a complexidade do som. Claro que o som é "complexo" (entre aspas mesmo), mas a quilômetros de distância da complexidade da escrita. A grande maioria das obras da New Complexity, apesar de soarem complicadas, estão, "sonoramente" falando, muitos graus abaixo da correspondente complexidade visual. Novamente chegamos à concepção de música para os olhos...
Ouça outro Estudo Transcendental, agora do Fraz Liszt (o nº 2):
Aposto que você, mesmo sem olhar a partitura, conseguiu ouvir a dificuldade. Mas talvez o intérprete não tenha necessitado se esforçar tanto... (Estou sendo irônico, ok?)
Ou seja: os meios da New Complexity me parecem um tanto quanto exagerados para o fim a que se destinam. É como exigir de uma criança que ela aprenda a calçar meia usando apenas a boca. O resultado seria o mesmo se você a deixasse utilizar as mãos, mas ao usar só a boca a criança seria obrigada a mostrar empenho verdadeiro...
Claro que todos os membros dessa escola (movimento?, seita?) são absolutamente contrários ao uso da expressão "new complexity" para categorizar suas músicas, mas isso, a meu ver, só reforça a faceta mais estereotipada de todo este movimento: a recusa em aceitar o óbvio, pois o diferencial dessa música é a complexidade da escrita, nada mais que isso (para mim, ao menos).
Isso também combina com outra opinião comum a respeito dessa música, qual seja, a de que ela não é feita para ser tocada exatamente como está escrita, o que também é óbvio: Primeiro, porque é impossível ser executada corretamente; em segundo lugar (e mais problemático ainda, a meu ver), porque, mesmo que seja executada com precisão absoluta, é impossível (inclusive para o compositor), saber se está "certa" ou não. É humanamente impossível, enquanto se ouve, rotular, separar, analisar e calcular as inúmeras gradações rítmicas, dinâmicas, expressivas, e se chegar a uma conclusão sobre a correção da execução.
A essa crítica, respondem que um dos intuitos dessa música é justamente esse, a busca pela perfeição, mesmo sabendo-se desde o princípio que essa perfeição é inalcançável. Mais uma vez é não se aceitar o óbvio: qualquer arte performática está sempre sujeita a erros, tropeços, falhas, e a perfeição é inalcançável. Ou vai me dizer que um Mozart perfeito é mais fácil de ser atingido? Esse, decididamente, não é o diferencial dessa música!
Enfim... Se quer complicar, fique à vontade! E quem quiser se aventurar a tocar suas músicas, fique à vontade também! O que me irrita, na verdade, é a discrepância entre o resultado e o esforço. Não é música (para mim, ao menos) feita para se ouvir. É música feita para comprovar a "genialidade" do intérprete e do compositor.
Enfim... Se quer complicar, fique à vontade! E quem quiser se aventurar a tocar suas músicas, fique à vontade também! O que me irrita, na verdade, é a discrepância entre o resultado e o esforço. Não é música (para mim, ao menos) feita para se ouvir. É música feita para comprovar a "genialidade" do intérprete e do compositor.
E também não tenho nada contra pessoas geniais! O problema é que a música não é genial. Os intérpretes e os compositores podem ter as personalidade mais marcantes do universo, e serem geniais (principalmente os intérpretes), mas a música não tem muita personalidade. Ouça cada uma das peças abaixo e descubra: O que elas "falam"? O que elas "pensam"? Quem elas "são"? Para mim, elas soam sempre como um único indivíduo, indistinguíveis entre si. As plumagens mudam, mas o passarinho continua o mesmo...
Pode ser que chegue o dia em que eu seja obrigado a morder minha própria língua, mas duvido. Preconceito meu? Talvez. Mas, sinceramente, essa música, para mim, tem tanto valor (e tanta personalidade) quanto o Baloon Dog (Orange), do Jeff Koons, vendido por 58,4 milhões de dólares:
Que, claro, é completamente diferente do Baloon Dog (Pink):
Que - chega a doer de tão óbvio - é completamente diferente do Baloon Rabbit:
Que não tem, é claro, a mesma personalidade que o Sacred Heart:
Enfim... eu sou chato mesmo!
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