quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Estilistas na fase oral 2 : Voltemos ao Barroco

Agora que já me recuperei (um pouco) do Scarlatti (o Alessandro) e do Pergolesi, voltemos para a máquina do tempo e continuemos com o Barroco.

Já que falamos em Stabat Mater, vamos ver outro tipo de música que começou sacra e acabou sendo também secular, e que fará muito sucesso pelos próximos 200 anos, o oratorio, e comecemos por uma das primeiras obras-primas, Historia di Jephte, de Giacomo Carissimi:

(Se alguém quiser acompanhar o texto do oratório, tem o original em latim e uma versão em inglês AQUI)

Atualmente é quase impossível pensarmos em oratorio sem pensarmos em Handel e seu Messias, e quase esquecemos que este é apenas um entre seus diversos oratórios maravilhosos, como, por exemplo, Samson. Portanto, aqui vai uma de suas árias mais famosas, "Total eclipse":


Total eclipse! No sun, no moon.
All dark amidst the blaze of noon!
Oh, glorious light, no chering ray
to glad my eyes with welcome day.

Total eclipse! No sun, no moon.
All dark amidst the blaze of noon!
Why thus depriv'd They prime decree?
Sun, moon, and stars are dark to me!

Quem quiser conferir como este oratório é inteiro espetacular, e se atrever a encarar mais de 3 horas de música, aqui está uma versão integral, cujo texto pode ser acessado AQUI:


E agora o oratório La Giudita, de um contemporâneo do Handel de quem ninguém ouve mais falar, o português Francisco António de Almeida, e que foi gravado pela primeira vez em 1990, depois de passar mais de 150 anos "perdido". Pena que não encontrei nenhum vídeo da obra integral, e teremos que nos contentar com apenas a Abertura, a ária "Illustre prence", e o dueto lindíssimo "Ma qual vano consiglio".

Abertura:


Aqui a ária:


E o dueto:


Abandonemos logo a musica ecclesiastica barroca, antes que fiquemos mais uma semana só tratando dela, e partamos logo para a musica cubicularis vocal.

Não é possível falarmos de música vocal no Barroco sem ao menos darmos uma passadinha por Giulio Caccini, compositor de Le Nuove Musiche, uma das primeiras e mais influentes coleções de música para voz solo e baixo-contínuo (a nova música) do início do Barroco. "Amarilli, mia bella", dessa coleção, é até hoje - merecidamente - cantada por todo e qualquer aluno e aluna de canto:


Amarilli, mia bella
Non credi, o del mio cor dolce desio,
D'esser tu l'amor mio?
Credilo pur, e se timor t'assale,
Prendi questo mio strale,
Aprimi il petto e vedrai scritto in core:
Amarilli, Amarilli, Amarailli è il mio amore. 

E a ainda mais maravilhosa "Amor, io parto", da mesma coleção:


Amor, io parto, e sento nel partire
al penar, al morire,
ch'io parto da colei ch'è la mia vita,
se ben ella gioisce
quand'il mio cor languisce.

O durezza incredibil'e infinita
d'anima che 'l suo core
può restar morto, e non sentir dolore!

Ben mi trafigge amore
l'aspra mia pen', il mio dolor pungente,
ma più mi duol il duol ch'ella non sente

(Lindo!!!!!!!!!!!!)

Dentro da música vocal de câmara, um dos gêneros mais populares do Barroco era a cantata (um tipo de oratorio pequeno), tanto sacra quanto secular (cantata da camara), geralmente para um ou duas vozes solistas. Existem milhares delas! Milhões! Todo compositor barroco, mais cedo ou mais tarde, escreveu uma cantata (ou várias, ou dezenas, ou centenas - sacras e/ou de câmara), mas teremos que nos contentar com apenas dois exemplos de cantata de câmara, por hora, ambas italianas. Primeiro, Il più felice e sfortunato amante, de Agostino Steffani, para voz solo:

(Libretto AQUI)

E La lontananza, de Benedetto Marcello, estupendamente linda, para dueto:

(Não encontrei o libretto, mas compensa ouvi-la mesmo sem entender nada ou quase nada. Vai ser linda assim lá em casa!)

Há tantas cantatas barrocas maravilhosas, relativamente simples de serem executadas, que fico pasmo ao ver, mais uma vez, que o repertório brasiliense de música clássica é tão pobre. Não sei se o problema é falta de originalidade ou "Síndrome de Transamazônica": o importante é que seja grande (sinfonias e óperas), mesmo que mal-acabadas... Enfim...

Mas vamos à musica theatralis "de verdade", que finalmente dá as caras no Barroco, com suas óperas, balés, pastorales, opéra-ballets, etc, etc. Voltando ao assunto Brasília: acho que o problema é falta de originalidade mesmo, pois não faltam obras complexas, difíceis, de grande envergadura, no Barroco. À exceção do Messias, do Handel (apresentado esporadicamente) e da Missa em si menor, do Bach (apresentada mais ou menos a cada 10 anos), o resto é totalmente ignorado...

Como eu disse que daria descanso para o Monteverdi não poderei colocar nada de L'incoronazzione de Poppea, uma das obras-primas da ópera de todos os tempos. Em compensação, teremos o prazer eu ouvir um trecho lindíssimo da ópera Armide, de Jean-Baptiste Lully:


E uma ária e coro da maravilhosa semi-opera ("mistura" de ópera, balé e peça teatral, onde apenas alguns personagens cantam) The Fairy-Queen, de Henry Purcell, "If Love´s a Sweet Passion":


If Love's a Sweet Passion, why does it torment?
If a Bitter, oh tell me whence comes my content?
Since I suffer with pleasure, why should I complain,
Or grieve at my Fate, when I know 'tis in vain?
Yet so pleasing the Pain, so soft is the Dart,
That at once it both wounds me, and tickles my Heart.
I press her Hand gently, look Languishing down,
And by Passionate Silence I make my Love known.
But oh! I'm Blest when so kind she does prove,
By some willing mistake to discover her Love.
When in striving to hide, she reveals all her Flame,
And our Eyes tell each other, what neither dares Name.

Antes que eu comece a ficar mais desanimado ainda com Brasília, terminemos o Barroco com uma "micro-ópera" (durando cerca de 40 minutos) cômica do Pergolesi: La serva padrona (mais propriamente falando, um intermezzo, apresentado originalmente entre os atos de sua opera seria Il prigionier superbo, que foi traduzida para vários idiomas, sendo apresentada por toda a Europa, à época, e que tornou-se o modelo para praticamente toda ópera cômica do futuro). É quase Mozart!:


(AQUI, o libreto completo em italiano, com tradução em espanhol)


Cenas do próximo capítulo -  Classicismo

Cânone a 4 vozes "Gehn wir im Prater, gehn wir in d'Hetz", KV. 558, do W. A. Mozart:



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