terça-feira, 1 de outubro de 2013

Virados pra Lua

Li recentemente um livro onde a "criatura escrevente" falava sobre a visão que o século XX (lembra-se dele?) tinha sobre sexualidade, em comparação com a visão do século XIX. Até aí, nada de novo... Mas era um livro sobre música, e o cara na verdade estava tentando explicar que essa mudança de visão sobre sexualidade havia afetado a maneira de ouvirmos e entendermos o primeiro movimento da "Sonata ao Luar", do nosso amigo Beetho. Foi uma experiência interessante, confesso, fazer "aquilo" com o Beetho! (Minha desculpa é que eu estava meio bêbado, não tinha nada pra fazer no momento, o Beetho era um cara muito interessante, a conversa estava boa, o vinho estava gostoso, a música era excelente... Resumindo: fiquei curioso e não resisti!)

Claro que a experiência daquela noite não saiu mais de minha cabeça. Passei a escutar a "Sonata ao Luar" o tempo todo (deve ser por isso que não existem ex-"lunáticos": a curiosidade só aumenta....), e comecei a futucar outros compositores que também não tinham conseguido resistir à curiosidade de experimentar esse prazer noturno. E quer saber? Muitos se renderam, ao menos uma vez, a seus encantos!

Então, por falta do que fazer, resolvi compilar uma listinha de exemplos "lunático-clássicos" (Compilar... êita verbo feio! Se alguém descobrir uma só conjugação que preste, vai ganhar um prêmio!) :

Compilemos, pois, e comecemos pelo celebérrimo "Clair de Lune", do Debussy (que, aliás, faz parte de uma suíte, a Suite Bergamasque):


Pierrot Lunaire, op. 21, do Schoenberg. Aqui vai apenas a 1ª parte, "Mondenstrucken":


Tem também a "Melodia Sentimental" (que também é parte de outra suíte, A Floresta do Amazonas) do Villa-Lobos, e uma de suas canções mais conhecidas. TODO MUNDO já gravou isso, em todos os estilos (imagináveis ou não). Até as pessoas que "não suportam" música clássica a adoram:

(Ninguém sabe pronunciar o português direito, mas, excetuando esse "problema", é uma gravação linda, a melhor de todas que já ouvi)




O nosso amigo F. Schubert é outro que compôs canções "lunáticas", como a  "Der Wanderer an den Mond", D. 870, uma de suas mais importantes canções:


Tem muitas outras ainda, pois Schubert parece ter sido fascinado por esse astro (também, basta ver sua "cara de Lua" para notarmos que ele não iria nos decepcionar).


Outra de suas canções, "An den Mond", D. 193 (poema de Ludwig Hölty) é, aliás, uma homenagem à Sonata ao Luar, do Beetho:


(Lindo demais!)

Schumann também musicou esse mesmo poema:

(Quase consegue ser ainda mais linda que a versão do Shcubert)

E Brahms, novidade!, também musicou esse mesmo poema! Mas vamos ouvir outra de suas canções, a "Mondnacht":


O Schumann também tem uma "Mondnacht", para o mesmo poema, claro... TODO MUNDO usava os mesmos poemas zilhões de vezes; alguns até usavam o mesmo poema mais de uma vez, como as duas versões do Schubert (D. 259 e D. 296) para o poema "An den Mond", do Goethe (diferente do "An den Mond", D. 193, daí de cima, que é de outro poeta):


(Para quem está deseperado por saber minha opinião: eu gosto mais da segunda versão)

Há outra canção "An den Mond", dessa vez do Hans Pfitzner, para o mesmo poema do Goethe que Schubert usou:


Ou seja: daria para montar um recital inteiro de canções com apenas 2 ou 3 poemas. (Não sei como é que ninguém pensou nisso antes. Pelo menos EU nunca soube de um recital assim, mas adoraria ouvir! Taí a dica, para quem quiser.)

O Debussy era outro com "cara de Lua":


Claro que ele também não nos decepciona, pois compôs uma renca de obras "lunáticas" (além da "famosésima" "Clair de Lune" daí de cima), entre elas:

"La Terrasse des audiencies au clair de lune", o número 7 do Segundo Livro de Prelúdios:


Ou a canção "Clair de lune: votre âme est un paysage choisi" (poema do Verlaine), que também exite em duas versões:

A versão de 1882:


E a versão de 1891:



E ainda tem a versão do Gabriel Fauré, sobre o mesmo poema:


Tem mais outra "Clair de Lune", da Suíte para órgão, Op. 53, do também francês Louis Vierne, um dos bons compositores franceses da segunda metade do século XIX que praticamente sumiram do repertório (Aliás, os franceses do século XIX eram fascinados por música para órgão, e qualquer dia eu vou ter que "postar um post" sobre esses compositores):


Até a NASA (quem diria?) também já se interessou pela Lua, e alguém lá teve o trabalho de também compilar uma lista bem interessante de músicas "lunáticas", porém com ênfase na música popular americana, cráro: http://moon.nasa.gov/moonsongs.cfm.

Então, só para não dizer que eu não falei da Lua brasileira "popular", aqui vai uma das minhas favoritas, "Lua Branca", de Chiquinha Gonzaga:

(Linda demais!!!!!!)

A Lua, porém, não sobrevive apenas em peças pequenas. Para terminarmos em grande estilo, portanto, vamos para Il Mondo della Luna, a ópera doidinha do Haydn na qual um astrônomo tenta convencer um incauto cidadão da existência de vida lá em cima, e o despacha para lá numa viagem regada a ópio, com direito a encontro com o Imperador da Lua. Eu havia colocado um vídeo da ópera inteira, mas ele foi retirado do YouTube, e teremos que nos contentar com um trechinho minúsculo:


Boa viagem!

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