terça-feira, 12 de novembro de 2013

Schuchubert

Meudêus...

Fui hoje à noite a um concerto de nossa Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, com o regente chileno Pedro Sierra, numa apresentação da série Concertos Internacionais. Vamos ver se o próximo presta.

Das peças chilenas apresentadas não vou falar, por dois motivos: A primeira peça, Andante para Cordas, de Alfonso Leng Haygus, pelo menos foi bem tocada; nisso, ao menos, parece que o regente se esmerou. Como me pareceu ser considerada um monumento da música chilena, acho melhor eu ficar quieto sobre seus méritos (segundo minha particularíssima opinião) para não mexer com os brios alheios. A segunda peça chilena, Tatio, de Sergio Berchenko, nem cheguei a ouvir, pois foi apresentada após o Schubert.

E a Sinfonia nº 3, em ré maior, D. 200, do Schubert (doravante conhecido como Schuchubert), meudêus... estava tão, mas tão ruim, que estragou a vontade de continuar a assistir ao concerto. Já não é uma grande sinfonia (mas ele tinha 18 aninhos e não é nem um pouco justo a compararmos com as sinfonias do Beethoven, seu contemporâneo bem mais velho); apesar disso, é uma música cheia de vigor rítmico, cheia de energia de gente jovem, e bem divertida, ingênua, gostosa de se ouvir. 

Quer dizer... deveria ser assim. O que nos foi servido, hoje, parecia uma massa mal cozida de ritmos molengos. O que era para ser ebulição de juventude virou um chá de schuschu, feito com água morna, bem longe do ponto de fervura.

O primeiro movimento me pareceu o mais palatável. Daí para a frente o jantar (que já não estava muito quente), foi perdendo cada vez mais energia e virou uma grande e morna sopa de notinhas. O segundo movimento, um lindo Allegretto, com sabor de dança antiga e cortesões educados fazendo mesuras, parecia uma carroça puxada por bois; não que estivesse lento, mas perdeu completamente a leveza característica da dança. Foi como se tivessem arrancado as asas de Pégaso e as tivessem grudado num hipopótamo: ele voou, mas o efeito não convenceu!

O terceiro movimento, meudêumeudêus... o pior de todos. Acentos agógicos (preguiça de explicar o que é isso; então nem vou tentar) fora de lugar, articulações inexistentes, respirações inexistentes. O regente passou do Minueto para o Trio (parte central do Minueto) como se ele tivesse tropeçado no batente da porta da sala e caído de cara  no banheiro; não passou de um trecho para o outro: ele deu a nítida sensação de que tinha tropeçado. Tropeçou tanto, mas tanto, que metade da orquestra se perdeu.

E, para terminar (para "acabar"), o 4º movimento: Presto. Não, não é do verbo prestar: eu presto, tu prestas ele presta; estava longe disso. Talvez não tenha sido tão ruim quanto o 3º movimento, mas, mesmo assim, não prestou. Novamente: ritmos pesados, fraseados inexistentes, respirações inexistentes, equilíbrio inexistente (e andamento arrastado)...

Tadinho do Schubert...

A orquestra também não ajudou, mas ponho grande parte da culpa no maestro, que me pareceu não estar prestando muita atenção no que fazia, ou não teve tempo de ensaiar, ou tinha acabado de descer do avião, ou sei lá o quê. De qualquer forma, a orquestra também não ajudou. Não sei se também faltou ensaio, se faltou tempo, ou se não levaram o serviço muito a sério por ser uma sinfonia de um "moleque" de 18 anos. Nunca foi uma orquestra lá muito precisa nos ritmos, e nesta noite estava pior que nunca. Em cada trecho de música com figurações mais rápidas parecia que haviam soltado no palco um "enxame" de vaga-lumes: cada um piscava na hora que bem entendia. Ou uma panela de pipoca, com seu matraquear rápido e aleatório, totalmente desencontrado. Triste...

Salvou-se, por comparação, a segunda peça do programa, o Concerto para Piano nº 27, em si bemol maior, do Mozart, com a pianista Lígia Moreno. Após um início meio traumático (parecia um Concerto para Contrabaixos e Violas, acompanhado por Orquestra e Piano - novamente, culpa do José, perdão, Pedro Sierra), foi entrando mais nos eixos (relativamente), e acabou sendo o mais divertido da noite, principalmente seu segundo movimento, Larghetto, com seus belos pequenos duetos de piano e flauta. Aliás, os melhores momentos da noite.

Um beijo para a flautista, que mereceu o "Prêmio Melhor da Noite". Pena que eu não possa dizer o mesmo de seu colega clarinetista, que parece ter errado todas as entradas de todos os solos.

Bom, acho que já fiz inimigos bastantes por hoje. Então, tchau!, e espero trazer melhores notícias numa próxima oportunidade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário