terça-feira, 28 de janeiro de 2014

E agora? Será que tem concerto?

Concerto, como tudo na música, pode significar ene coisas. Você pode ir a um concerto, mesmo que não vá ouvir nenhum concerto. Você pode ir a um recital de música de câmara, para, digamos, 4 instrumentos, e mesmo assim ouvir um concerto. Pode inclusive ir a um recital solo e, de repente, ler no programa que uma das peças é um concerto, apesar de só haver um mísero músico, sozinho, no palco.

A palavra concerto originalmente servia apenas para designar uma obra musical que utilizava diferentes grupos de instrumentos e vozes, onde cada um dos grupos era mais ou menos independente dos restantes, mas atuando "em concerto". Isso foi uma "invenção" do final da Renascença, quando virou moda a escrita policoral. Lá na Igreja de São Marcos, em Veneza, devido à distância entre os diversos coros (local onde os cantores ficam), tornou-se comum escrever para diferentes grupos, cada um colocado em seu coro). Às vezes cantavam juntos, às vezes cantavam separadamente, e devia ser espetacular você ver e ouvir a música vindo de, digamos, quatro locais diferentes. (E depois dizem que música stereo é invenção do século XX...)

A existência de diferentes coros (agora no sentido atual, de grupo), formados por diferentes combinações de vozes (um grupo podia ter só 4 solistas, ou ser um coro completo, com muitos cantores, ser um coro só de crianças; podia ser qualquer coisa!) levou os compositores a experimentarem com grupos cada vez mais diferentes, incluindo grupos instrumentais. As palavras de ordem eram diferenciação e integração: "Vamos misturar tudo e ver como é que fica!"

Infelizmente aqui em Brasília só ouvimos Mozart, Beethoven, algum Bach, e toneladas de Românticos. Oh, povo sem imaginação... E não é por falta de espaço! No Teatro Nacional caberiam folgadamente uns 53 coros espalhados por todos os lados, mas nunca temos a oportunidade de ouvir música policoral. No Teatro Nacional é impossível (apesar de ser possível); em casa, é mais difícil ainda, pois nenhum "rômi-tchíchi" consegue dar ideia do que era essa música ao vivo! Vou ter que ir à Itália (ou qualquer outro lugar decente) só para ouvir "policoros" berrando de todos os lados! Vou adorar!

Enquanto isso, o jeito é nos contentarmos com uma vaga, pálida, ínfima ideia da coisa real, aqui no blog mesmo. Com você, o mestre dos mestres da policoralidade, Giovanni Gabrielli, e seu In ecclesiis, com quatro coros:

1 - Solistas vocais (contratenor, alto, tenor e barítono);
2 - Coro vocal (alto 1, alto 2, tenor e baixo);
3 - Cornetos (cornetos 1, 2 e 3);
4 - Violino, trombone tenor, trombone baixo.

("Chega-dói" de tão lindo!)

Viu? Agora você já começou a entender como é que funciona um concerto! E também já entendeu que não tem nada a ver com forma: pode ser forma-sonata, pode ser forma de ária com ritornello, pode até ter forma de batata, se eu quiser! Pode ter um só movimento, pode ter vários, pode ter inúmeros! Uma cantata, digamos, pode muito bem ser classificada como concerto. Tem vozes, não tem? Tem instrumentos, não tem? Esses grupos são utilizados de forma contrastante, não são? Mas às vezes estão "homogeneamente" juntos, não estão? Logo, uma cantata pode ser um concerto. Um oratório também pode. Qualquer coisa pode ser um concerto, se se adequar à definição que acabamos de dar para a criatura!

Quer ver como é verdade? Ó só o Schütz, que nós já vimos AQUI, com um de seus Pequenos Concertos Espirituais, SWV 335:


Foi a festa! Profusão de música para toda e qualquer combinação que passasse pela cabeça dos compositores, mas sempre com utilização de vozes e instrumentos, o que acabou ficando conhecido como stilo concertato (também às vezes designado como concertato con istrumenti); e vôalá, habemus concerto! Aliás, a palavra sinfonia é apenas uma tradução livre da palavra concerto, e também só significava, originalmente, tocar junto, tocar em harmonia, concordar, combinar, etc...

Vamos ouvir agora uma das Sinfonias Sacras, também do Schütz, onde o estilo concertato é mais evidente ainda. Sinfonia Sacra op. 6, nº 13, Fili mi Absalon:


O texto é tudo isso aqui:

Fili mi Absalom fili mi Absalom 
quis mihi tribuat ut ego moriar pro te
Absalom fili mi fili mi.

Um concerto (ou sinfonia), portanto, era só isso; vozes e instrumentos cantando e tocando juntos, e separados, e novamente juntos, etc, etc, etc, nas mais diferentes combinações possíveis: nós quatro, eu com ela, eu sem ela, nós por cima, nós por baixo, e por aí vai...

É um concerto, mas é uma sinfonia, também é uma cantata, e nosso amigo Jotaésse vai adotar integralmente esse stilo concertato em suas próprias cantatas. Foi um caminho sem volta, e a música do Barroco se resumiria a um repeteco do Renascimento se não fosse por essa invenção maravilhosa (e pela ópera)! Tudo virou concerto; tudo tinha concerto! Pra qualquer lugar que você olhasse lá estava um concerto olhando pra sua cara, dando risada: "Oiê, sou eu de novoooo!"

Mas, como dizia o Cazuza, o tempo não para (uma salva de palmas para o Cazuza e sua incrível originalidade!), e alguém acabou pensando, já lá pelo meio do Barroco: "Quero escrever um concerto, mas não quero usar vozes. Não sou obrigado(a)!". Tá bom! Não quer, não use. Já falei inúmeras vezes que em música nada é obrigatório (contanto que dê certo!). 

E finalmente a música instrumental ficou livre da gritaria! Claro que às vezes ela ficava com saudades dos antigos coleguinhas, e os chamava para comemorações especiais (confraternização de fim de ano, por exemplo - vide o Messias, do Handel), ou para a missa de domingo (vide as cantatas do Bach), porém agora aparece o "nosso" concerto, aquele que a gente jurava ser o de verdade: um grupo de instrumentos (a orquestra), contrastando (e harmonizando) com um grupo menor de instrumentos (ou apenas um), agora sem as vozes, mas trazendo consigo todo o drama da música vocal concertada!

Ó só este Concerto para Violino e Orquestra, em ré menor, do Giuseppe Tartini. É outro que "chega-dói" de tão lindo, e outro daqueles que você nunca poderá ouvir em Brasília, saco!


Aliás, o concerto "de verdade" começa pelo violino (e sua família) justamente por ele ser o instrumento que mais conseguia "falar" sem palavras. Se não tinha vozes cantando, precisava-se de um instrumento tão ágil, expressivo, e tão cantabile quanto as vozes (a expressão cantabile, até hoje comum em qualquer partitura instrumental, vem daí, dessa necessidade de se imitar o canto). 

Ó só como é "dramático" e "cantabile" o Concerto para Violino e Orquestra, op. 8, nº 4, O Inverno, do Vivaldi:


Adoro a interpretação do primeiro movimento deste concerto pelo Concerto Italiano, pois acho que eles captaram muito bem essa dramaticidade do Barroco, que, ao contrário do que se  pensa, não tinha nada de comportado. O Barroco musical, assim como nas artes plásticas, é marcado pelo excesso, pelo exagero, feito para "estupidificar", assombrar, deixar a plateia de boca aberta; não era musica  (quando bem feita) para se ouvir com cara de "Ai, que meigo"!

Concertos para outros instrumentos tornam-se também populares, depois, e há concertos para absolutamente qualquer instrumentos que você conseguir imaginar. Deve haver até algum concerto para triângulo e orquestra perdido por aí. Eu exagero (como sempre), pero no mucho: apesar de eu não conhecer nenhum Concerto para Triângulo e Orquestra, há, ao menos, o Concerto para Piano e Orquestra nº 1, do Franz Liszt, conhecido (por alguns) como Concerto para Piano e Orquestra nº 1, "com Triângulo", devido a importância desse instrumentinho em seu quarto movimento (aqui está o concerto inteiro, com seus movimentos ininterruptos, numa interpretação maravilhosa do Nelson Freire):


Mas voltemos ao assunto de antes! No Barroco o concerto era tão importante que acabou criando para si mesmo uma forma musical conhecida, obviamente, como forma de movimento de concerto, que basicamente seguia um esquema bem simples: A (orquestra) - B (solista) - A' (orquestra) - B' (solista) - A'' (orquestra) - B'' - A''', etc...

As parte As também contavam com a presença do solista (ele tocava junto com a orquestra), e as partes Bs (os solos) podiam ser baseadas ou não nas partes As. Ouça de novo o Tartini daí de cima (1º mov), um exemplo onde as partes Bs são baseadas nas partes da orquestra.

Foi? Viu? Venceu? Então agora ouça o primeiro movimento do famosérrimo Concerto para Teclado e Orquestra, em ré menor, do nosso amigo Jotaésse Bach, onde a maioria do material das partes Bs não é derivada de A, numa interpretação espetacular de Trevor Pinnock e The English Concert:

Vai ser lindo assim lá em casa!

Devido à popularidade gigantesca dessa forma de concerto é que vamos encontrar concertos para solistas sem orquestra, como o Concerto Italiano, também do nosso amigo Jotaésse, para teclado solo. Note que o primeiro movimento, estruturalmente, é igual ao concerto com orquestra daí de cima (em escala menor); dá para se ouvir claramente as entradas do "solista":


Concerto, a partir de então, pode assumir inúmeras formas diferentes, mais ou menos contrastantes, mais ou menos "cooperativas", e também pode assumir estruturas diferentes (algumas derivadas da forma-sonata), mas sempre guardando essa característica de "grupos diferentes de instrumentos tocando juntos", mesmo quando não há orquestra, como também é o caso do Concerto para Piano, Violino e Quarteto de cordas, de 1891, do Ernest Chausson:


Ou o Concerto para Cravo, Flauta, Oboé, Clarineta, Violino e Violoncelo, de 1926, do Manuel de Falla, um dos meus concertos "estranhos" favoritos:


Do outro lado do espectro musical (romântico, sonhador, suave, delicado, "impressionista") - mas também do Manuel de Falla - ouçam só que lindo o Noches en los Jardínes de España. O Mané o chamou de "impressões sinfônicas", mas o caráter concertístico da obra é inegável, só não tendo sido chamado de concerto por alguma frescura do compositor!:


Mas, voltando a concertos estranhos, mais um dos meus favoritos, o Concerto para Violoncelo e Orquestra do György Ligeti, fantasmagórico como o seu Requiem:


Bom... eu pulei quase 200 anos de concertos, mas tenho dois motivos:

1 - Não vou falar dos concertos do Classicismo e do Romantismo porque eles são os mais famosos de todos, e todo mundo está careca de conhecê-los (nós mesmos já ouvimos alguns deles aqui, quando falei sobre cadência);

2 -  Porque concerto é uma das formas mais presentes em toda a música clássica, nunca tendo saído de moda, e mais popular do que nunca durante o século XX (e nesse pedacinho de século XXI também). Não que a forma musical seja sempre a mesma, claro, pois ele pode assumir diversas, mas a definição de concerto como uma obra musical para um ou mais solistas (vocais ou instrumentais, verdadeiros ou "subentendidos") com acompanhamento de orquestra (ou qualquer outro grupo de instrumentos) permite variações infinitas, possibilitando que os mais diferentes estilos e linguagens harmônicas - dos mais "simples" aos mais "complexos" - sejam utilizados, como, por exemplo, neste Concerto para Orquestra, Instrumentos turcos e Vozes, de 2002 (revisado em 2009 - qual será a versão "original"?), do compositor turco-americano Kamran Ince. Aqui, apenas o segundo movimento:


Ou o Concerto para Marimba, Coro e Percussão, de 2010, do americano Gene Koshinski:


Interessante, mas enjoa rapidinho. Se você quiser experimentar um concerto para percussão, tente este aqui, o Concerto para dois Pianos, Percussão e Orquestra, do Béla Bartók, muito mais interessante:


Por falar em Bartók, existem também vários exemplos de concertos para orquestra. Apesar desse nome meio estranho (cadê o solista?), significa apenas que os diversos grupos (ou instrumentos individuais) da própria orquestra são tratados  como solistas ao longo da obra: às vezes pode ser o grupo das cordas, ou o grupo das madeiras, ou posso resolver tratar as trompas como solistas, ou qualquer outra ideia que me ocorrer. O importante é que não existe apenas um solista (ou grupo), mas que o solo será distribuído entre os diversos membros (ou grupos) da orquestra. Ó só o 5º movimento do Concerto para Orquestra, do Bartók, um dos mais famosos:


(Este é um vídeo com a Orquestra Jovem do Canadá, onde, pelo visto, só tem músicos maravilhosos! Prestem atenção à precisão dos violinos, principalmente no início do movimento, com sua música virtuosística, bem "solística". Aproveite a deixa e vá lá no YouTube ouvir todos os movimentos!)

Outra classe de concertos que habita a zona desmilitarizada na fronteira entre concertos e sinfonias é a sinfonia concertante, onde o instrumento solista (ou mais de um), apesar de ser tratado com destaque, não chega a ter uma posição tão "solista" quanto num concerto "de verdade". Claro que o que mais há na música são regiões cinzentas, e muitas vezes é difícil distinguir o porquê de uma determinada obra ser um concerto, ou uma sinfonia concertante, ou um concerto para orquestra. Algumas vezes é o próprio compositor que faz esta distinção, como, por exemplo, a Sinfonia concertante para Violino, Viola e Orquestra, em mi bemol maior, K. 364, do Mozart (primeiro movimento):


Apesar de o título não especificar o gênero, algumas obras são também geralmente classificadas na categoria sinfonia concertante, como a Sinfonia Harold en Italie, que tem o subtítulo "em quatro movimentos, com viola obbligato", do Hector Berlioz (primeiro movimento):


Ou a Symphonie Espagnole, do Édouard Lalo, que na verdade (???) é uma sinfonia concertante para violino e orquestra (ou pelo menos é geralmente assim considerada - não pergunte qual a minha opinião, pois eu nunca consegui chegar à conclusão nenhuma; quer dizer... chegar, eu chego, mas depois eu pego o ônibus outra vez e acabo indo parar em outro lugar; minha opinião, pelo menos sobre esta sinfonia/concerto é um Grande Circular, que fica dando voltas e mais voltas...):


Ou seja: ao lado da suíte, o concerto é uma das coisas mais adaptáveis do planeta, e todo mundo, em todos os estilos, todos os países, absolutamente TODO MUNDO MESMO, escreveu concertos para agradar a qualquer paladar!

Concerto para Bandoneón e Orquestra, do Astor Piazzolla (primeiro movimento):


Concerto para Gaita e Orquestra (viu como tem concertos para tudo?), do nosso Villa-Lobos (só o segundo movimento, lindíssimo):


Concerto para Quarteto de Saxofones e Orquestra, do Philip Glass (primeiro movimento, lindo também!):


Há concertos suficientes para durarem umas 3 eternidades enfileiradas mas, como não temos tanto tempo assim, vamos ficar por aqui mesmo! Então, para terminarmos, o Concerto para dois Bandolins, em sol maior, RV 532, do Vivaldi:


(Lindo demais!!!!)

domingo, 26 de janeiro de 2014

Estilistas na fase oral 4 : Classicismo 2.0

Aimeudeus... não vou terminar nunca este assunto. Já estou ficando cansado, e ainda faltam os séculos XIX e XX. Socorro!!!!!!!!

Enfim, vamos lá: Classicismo 2.0! Já tratamos de música vocal de igreja, então vamos agora para música vocal de câmara e de teatro. 

Música vocal cubicularis:

Eu tenho a impressão de que o Classicismo é a primeira época na história da música em que a música vocal de câmara não tinha muita importância. Quer dizer... claro que existem exemplos, aos montes, mas o século XVIII tinha basicamente duas preocupações: ópera e música instrumental (sonatas, concertos e, na segunda metade do século, sinfonias). A música instrumental desse período é tão absurdamente importante e original,  abriu tantas novas possibilidades, que alguns gêneros muito característicos da música vocal parecem sumir durante este período.

Até mesmo as óperas dessa época (toneladas!) não são capazes e competir com a música instrumental. Pela primeira vez a música instrumental era o campo onde novas ideias surgiam. Até então a evolução da música esteve (quase) sempre confinada á música vocal - vide a importância da música sacra, das cantatas (sacras ou seculares), do madrigal, da ópera, no desenvolvimento dos estilos e técnicas musicais.

A paisagem do século XVIII, quando vista daqui do século XXI, parece uma floresta verde de música instrumental, apenas salpicada de vez em quando por um ipê amarelo de música vocal. Quem, hoje em dia, conhece música vocal do século XVIII em quantidade suficiente para competir com a música instrumental desse período? Ainda existem os ipês amarelos, pontinhos esparsos no matagal, exemplares maravilhosos que sobreviveram isolados, alheios ao que acontece (e aconteceu) no restante da floresta. A maior parte deles, porém, morreu...

O único compositor de ópera daquela época que realmente sobreviveu até hoje é (adivinha quem?) Mozart, claro, e isso porque, mais que qualquer ouro compositor de ópera da época, ele tinha absoluto domínio da música instrumental. Suas óperas representam quase que a totalidade dos ipês amarelos sobreviventes. Existem outros, obviamente, mas são poucos: Gluck, Cherubini, Cimarosa e uma meia dúzia de 2 ou 3 compositores que, esporadicamente, são desenterrados e colocados à prova novamente: "Vamos tirar a múmia do sarcófago e descobrir se ela ainda consegue ficar em pé!" Nessa categoria estão Salieri, Gréty, Paisiello, e alguns poucos outros.

Para piorar a situação da música vocal, o repertório "extra-igreja e extra-operístico" (lieder, chanson, árias de concerto) ainda estava engatinhando, só pegando embalo no início do século XIX. Se bem que, no caso desse repertório, o motivo pode ser outro: existe uma grande quantidade de obras que não foi devidamente catalogado e/ou editado até hoje, e mesmo aquilo que foi editado não entrou no repertório "comum" dos concertos. Cantam-se algumas canções e árias de concerto de Mozart até hoje, mas quem é que conhece as canções do Haydn? (Existem dezenas!!!). Olha só essa aqui, "A Pastoral Song" (é em inglês mesmo, ok?), como é linda!:


My mother bids me bind my hair
With bands of rosy hue,
Tie up my sleeves with ribbons rare,
And lace my bodice blue.

For why, she cries, sit still and weep,
While others dance and play?
Alas! I scarce can go or creep,
While Lubin is away.

'Tis sad to think the days are gone,
When those we love were near;
I sit upon this mossy stone,
And sigh when none can hear.

And while I spin my flaxen thread,
And sing my simple lay,
The village seems asleep, or dead,
Now Lubin is away.

Sobrevive, também, um repertório que originalmente era operístico, mas cujas molduras moreram: muitas múmias viraram pó, restando apenas uma mão ou uma orelha ainda vivas. São árias de ópera que tiveram a chance de ressuscitar como música de câmara, como, por exemplo, "O Del mio dolce ardor", que é a Pour Elise  da música vocal - todo cantor, obrigatoriamente, já passou por ela em algum momento da vida, e que é (era?) uma ária da ópera Paride ed Elena, do Gluck, e que mereceu ter sobrevivido. É linda, ainda mais quando interpretada por um profissional:


Espero que ainda ressuscitem mais coisas desse repertório, porém, até lá, não posso fazer nada... Passemos logo para a ópera, deixando para trás esse repertório vocal de câmara que já foi deixado para trás há muito mais tempo.

E agora eu estou no sal! Prometi que não iria falar de Mozart, então não posso colocar nada de Don Giovanni, Così fan Tutte, A Flauta Mágica, Le Nozze di Figaro, O Rapto do Serralho, Idomeneo, Mitridate, re di Ponto, La Clemenza di Tito (sem contar as outras menos conhecidas). Saco!

Tirando Mozart, sobrou muito pouco, e algumas das exceções mais espetaculares são as óperas (algumas delas) do Gluck ("dono" dessa "ária pedaço-de-múmia" daí de cima), principalmente Alceste, Orphée et Eurydice, Iphigénie en Aulide, e Iphigénie en Tauride. Todas lindas, todas ainda no repertório, todas ainda conhecidas e ainda apresentadas atualmente (menos em Brasília, claro...), e todas em francês, pois foram compostas para serem apresentadas em Paris, apesar de Gluck ser alemão.

Ó só que linda ária (com coro) "Ô malheureuse Iphigénie", umas das mais conhecidas (e usada na trilha sonora do filme Ligações Perigosas), da ópera Iphigénie en Tauride:


IPHIGENIE

Ô malheureuse Iphigénie!
Ta famille est anéantie!
Vous n'avez plus de rois, je n'ai plus de parents,
Mêlez vos cris plaintifs à mes gémissements!
Vous n'avez plus de rois, etc.
O malheureuse Iphigénie!
Ta famille est anéantie! etc.

CHOEUR DES PRÊTRESSES

Mêlons nos cris plaintifs à ses gémissements!

IPHIGÉNIE

Vous n'avez plus de rois, je n'ai plus de parents.

CHOEUR DES PRÊTRESSES

Nous n'avions d'espérance, hélas! que dans Oreste!
Nous avons tout perdu, nul espoir ne nous reste!

Para quem quiser enfrentar a ópera inteira (com legendas), aqui vai a versão integral. Tire um dia livre e faça a si mesmo o favor de assisti-la inteira, é linda:

(Só encontrei o libreto no original francês, com uma versão em alemão, AQUI)

Já que não posso colocar Mozart, vou ter que colocar alguma coisa do tão difamado Antonio Salieri. A ária "Par les larmes dont votre fille", da ópera Les Danaïdes (outra ópera encomendada para Paris), por exemplo, é linda!:


Não encontrei o libretto da ópera em lugar algum, mas se alguém se atrever a enfrentar o original francês, aqui está ela, infelizmente em versão de concerto (sem encenação):


E, já que falamos de Salieri, vamos ouvir Il Burbero di buon core, do espanhol Vicente Martín y Soler, que praticamente só sobrevive na Espanha (injustamente, porque é muito divertida!), e cujo libretto foi escrito por Lorenzo Da Ponte, o libretista responsável por Le Nozze di Figaro (que é a segunda parte de O Barbeiro), Così fan tutte, Don Giovanni, além de várias outras óperas do próprio Martín y Soler e do Salieri. Com vocês, um pequeno trecho de Il Burbero:


Aqui, as duas partes da versão integral (sem legendas novamente):



(ATUALIZAÇÃO: viu como eu tinha colocado a ópera inteira? O YT, porém, a jogou fora, e não existe mais nenhuma versão integral voando pela Internet, pelo visto...)

Martín y Soler e Salieri são considerados apenas como sub-Mozarts, hoje em dia, mas não dá para ser de outra maneira: há poucos, em quaisquer períodos da música, que não sejam sub-Mozarts. A história está cheia de sub-Shakespeares, sub-Dantes, sub-Da Vincis, sub-etc-etc-etc, que também merecem sobreviver!

Ó só outro "sub-Mozart", Domenico Cimarosa, cuja ópera Il Matrimonio Segreto foi composta para Viena, e lá estreou pouco mais de um mês após a morte de Mozart. É uma das poucas óperas deste período que ainda são reapresentadas regularmente e que não são do Mozart. Aqui, um trecho do segundo ato:


FIDALMA

Ebbene in questo punto
Vi do la mia parola
Che sarete mio sposo...

PAOLINO

Sposo?

FIDALMA

Sì, caro mio.

PAOLINO

Io?

FIDALMA

Sì, mio caro,
Sì, mio bene, consolati ...
Ma di color tu cangi? ... E che cos'hai?

PAOLINO

(Qual nuovo contrattempo è questo mai!)
Sento, ahimè! che mi vien male,
Già mi manca quasi il fiato!

FIDALMA

Non è niente, sposo amato,
Questo è effetto del piacer.

PAOLINO

Per pietà, che in svenimento
Io mi sento già cader.

FIDALMA

E' l'effetto del contento,
Passerà, no, non temer.
Mio caro Paolino
Ma! .... certo è svenuto,
Porgiamogli aiuto ...
C'è alcuno di là?
L'amore, il contento
Vedete che fa?

CAROLINA

Ma cosa è accaduto?
Che cosa è mai stato?

FIDALMA

Il povero giovine
Di me innamorato,
Per gioia in deliquio
Vedete che sta.
Io vado a pigliare
Un certo elisire,
Non state a partire.
Restatevi qua.

CAROLINA

(Che creder, che dire
Da me non si sa.)
Giusto Cielo! Quale affanno,
Qual sospetto mi martella!
Su, ti scuoti, su favella!
Io mi sento lacerar.

PAOLINO

Carolina, deh, va via!

CAROLINA

Tu invaghito di mia zia,
E mi vieni ad ingannar.

PAOLINO

Taci, taci, che per ora
Non mi posso qui spiegar.

CAROLINA

Ci mancava questa ancora
Per più farmi delirar.

FIDALMA

Son qui pronta ... Son qua lesta,
Ma già in piedi ti ritrovo.
Per la gioia che ne provo
Questa man ti do a baciar.

PAOLINO

Non mi prendo tanto ardire.

CAROLINA

Mia signora, pian pianino.

FIDALMA

Bacia, bacia, Paolino,
a Carolina
Non ci avete voi da entrar.

CAROLINA, PAOLINO

Questa certa confidenza
Di fanciulla alla presenza,
Che stia bene non mi par.

FIDALMA

Di qualunque alla presenza
Posso dar tal confidenza
A colui che ho da sposar.

E a ópera inteira, outra vez sem libretto, mas quem quiser acompanhá-lo poderá encontrá-lo AQUI. O vídeo não é lá grandes coisas, mas a cavalo dado etc...


Então chega por hoje, né? Nós nos veremos no próximo século, quando teremos que ter muita paciência, pois acho que irá nos render ao menos uns três posts... Aimeudeus!



quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Estilistas na fase oral 3 : Classicismo

Credo... Se continuar assim acho que vou levar um ano inteiro para terminar esse assunto... Também, quem me mandou inventar de mostrar exemplos de TODOS os séculos? Quem é que precisa disso? Enfim... Já que comecei, o jeito é terminar.

Senão, vejamos: Classicismo.

Acho (!) que todo mundo conhece Mozart e Beethoven; eles, portanto, estão proibidos de aparecer por aqui. Essas criaturas são tão espetaculares, mas tão espetaculares, que é difícil escapar delas quando se fala em Classicismo. Como estamos tratando, nestes posts, apenas da música vocal, é ainda mais complicado evitá-los! Quem é que consegue pensar em ópera desse período sem se lembrar imediatamente de Mozart? Ou pensar em música vocal sacra sem pensar nas missas e no Requiem do Mozart ou na Missa Solemnis do Beetho? Mas aproveitaremos que eles estão verboten e ouviremos coisas diferentes.

Um dos poucos compositores dessa época que ainda sobrevivem fora dos círculos de "especialistas" é o meu adorado Franz Joseph Haydn, uma das criaturas mais espetaculares, importantes e simpáticas que já existiram na música clássica. Mas até mesmo Haydn, hoje em dia, é mais falado do que escutado. Quem é que conhece bem suas sinfonias e seus quartetos de cordas, de onde Mozart e Beetho tiraram quase todas suas ideias?

Assim como Haydn, inúmeros outros compositores sofreram a mesma sorte. Esquece-se que Mozart e Beethoven representam o final desse período; eles acabaram com o Classicismo (no sentido de moer, de arrebentar, de f.... completamente o estilo, e depois deles o Classicismo não prestava pra mais nada!). O próprio Haydn, depois de conhecer Le Nozze di Figaro e Don Giovanni, recusou-se terminantemente a escrever outra ópera. Ele tinha total consciência de que era impossível competir com Mozart, e só volta à música vocal para compor seus oratórios A Criação e As Estações, um gênero no qual o Mozart nunca fez algo de importância.

Mas existe um carrada de compositores anteriores à "Dupla Dinâmica", que são os verdadeiros responsáveis pela existência do Classicismo: Haydn, principalmente, e mais o Carl Philipp Emanuel Bach,  o Johann Christian Bach, Niccolò Jommelli, François-André Philidor, Antonio Soler, André Gréty, Giovanni Paisiello, Luigi Boccherini, Domenico Cimarosa, Luigi Cherubini, Johann Stamitz (junto com seus filhos Carl e Anton), Christoph Willibald Gluck, etc, etc, etc. Todos absolutamente famosos à época, e quase todos apenas verbetes de dicionários de música, atualmente. Há também aqueles que desapareçam inclusive da maioria dos dicionários: Henry-Joseph Rigel, Ferdinando Paër, Gaetano Brunetti, Joseph Leopold Eybler, Andrea Luchesi, Tommaso Traetta, Johann Albrechtsberger, Giovanni Battista Viotti, etc, etc, etc. Tadinhos...

Ainda bem que a cada dia, em algum lugar do mundo (à exceção de Brasília, claro), ressuscita-se parte deste repertório desaparecido. Ninguém aguenta mais ouvir eternamente as mesmas coisas!  Tá certo que a Quinta Sinfonia do Beetho é linda, mas não é necessário ouvi-la 50 vezes ao vivo! E quem é que lê Os Miseráveis tantas vezes assim? Eu posso adorá-lo, mas também me divirto com Agatha Christie!

Então chega de falar e vamos ouvir alguns ilustres quase-desaparecidos, começando, como sempre, pela música sacra vocal, com o Requiem do Jotacê Bach:

Aqui, só o início


E aqui, ele completo


Mas eu não poderia deixar passar a chance de colocar a Missa in tempore belli, em dó maior, H. XVII:9, do Haydn, que eu adoro:


E agora, um dos totalmente desconhecidos,  Henry-Joseph Rigel, com seu oratório A Destruição de Jericó:


E um dos brasileiros do chamado Barroco Mineiro - que na verdade pertence ao Classicismo - José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, com o lindíssimo Kyrie da Missa em Fá Maior:


(Quem quiser ouvir a missa inteira, tem todos os trechos AQUI)

Já que entrei no assunto música brasileira, vamos aproveitar para ouvir outro "mineiro-vienense", o padre José Maurício Nunes Garcia, com seu (maravilhoso) Requiem mozartiano, numa (maravilhosa) interpretação da Orquestra Filarmônica de Helsink (Tá vendo? Brasília não presta nem para música brasileira! Até a Finlândia ganha de nós nesse quesito! Enquanto eles ouvem música brasileira em Helsink, aqui a gente sink to Hell...):


E agora eu fiquei bravo de novo. Não vou nem continuar com o assunto de hoje. Também já temos aí em cima algumas horas de música para nos ocupar por alguns dias, e depois voltaremos com a música vocal cubicularis e theatralis do Classicismo.

Bá-ái!

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Estilistas na fase oral 2 : Voltemos ao Barroco

Agora que já me recuperei (um pouco) do Scarlatti (o Alessandro) e do Pergolesi, voltemos para a máquina do tempo e continuemos com o Barroco.

Já que falamos em Stabat Mater, vamos ver outro tipo de música que começou sacra e acabou sendo também secular, e que fará muito sucesso pelos próximos 200 anos, o oratorio, e comecemos por uma das primeiras obras-primas, Historia di Jephte, de Giacomo Carissimi:

(Se alguém quiser acompanhar o texto do oratório, tem o original em latim e uma versão em inglês AQUI)

Atualmente é quase impossível pensarmos em oratorio sem pensarmos em Handel e seu Messias, e quase esquecemos que este é apenas um entre seus diversos oratórios maravilhosos, como, por exemplo, Samson. Portanto, aqui vai uma de suas árias mais famosas, "Total eclipse":


Total eclipse! No sun, no moon.
All dark amidst the blaze of noon!
Oh, glorious light, no chering ray
to glad my eyes with welcome day.

Total eclipse! No sun, no moon.
All dark amidst the blaze of noon!
Why thus depriv'd They prime decree?
Sun, moon, and stars are dark to me!

Quem quiser conferir como este oratório é inteiro espetacular, e se atrever a encarar mais de 3 horas de música, aqui está uma versão integral, cujo texto pode ser acessado AQUI:


E agora o oratório La Giudita, de um contemporâneo do Handel de quem ninguém ouve mais falar, o português Francisco António de Almeida, e que foi gravado pela primeira vez em 1990, depois de passar mais de 150 anos "perdido". Pena que não encontrei nenhum vídeo da obra integral, e teremos que nos contentar com apenas a Abertura, a ária "Illustre prence", e o dueto lindíssimo "Ma qual vano consiglio".

Abertura:


Aqui a ária:


E o dueto:


Abandonemos logo a musica ecclesiastica barroca, antes que fiquemos mais uma semana só tratando dela, e partamos logo para a musica cubicularis vocal.

Não é possível falarmos de música vocal no Barroco sem ao menos darmos uma passadinha por Giulio Caccini, compositor de Le Nuove Musiche, uma das primeiras e mais influentes coleções de música para voz solo e baixo-contínuo (a nova música) do início do Barroco. "Amarilli, mia bella", dessa coleção, é até hoje - merecidamente - cantada por todo e qualquer aluno e aluna de canto:


Amarilli, mia bella
Non credi, o del mio cor dolce desio,
D'esser tu l'amor mio?
Credilo pur, e se timor t'assale,
Prendi questo mio strale,
Aprimi il petto e vedrai scritto in core:
Amarilli, Amarilli, Amarailli è il mio amore. 

E a ainda mais maravilhosa "Amor, io parto", da mesma coleção:


Amor, io parto, e sento nel partire
al penar, al morire,
ch'io parto da colei ch'è la mia vita,
se ben ella gioisce
quand'il mio cor languisce.

O durezza incredibil'e infinita
d'anima che 'l suo core
può restar morto, e non sentir dolore!

Ben mi trafigge amore
l'aspra mia pen', il mio dolor pungente,
ma più mi duol il duol ch'ella non sente

(Lindo!!!!!!!!!!!!)

Dentro da música vocal de câmara, um dos gêneros mais populares do Barroco era a cantata (um tipo de oratorio pequeno), tanto sacra quanto secular (cantata da camara), geralmente para um ou duas vozes solistas. Existem milhares delas! Milhões! Todo compositor barroco, mais cedo ou mais tarde, escreveu uma cantata (ou várias, ou dezenas, ou centenas - sacras e/ou de câmara), mas teremos que nos contentar com apenas dois exemplos de cantata de câmara, por hora, ambas italianas. Primeiro, Il più felice e sfortunato amante, de Agostino Steffani, para voz solo:

(Libretto AQUI)

E La lontananza, de Benedetto Marcello, estupendamente linda, para dueto:

(Não encontrei o libretto, mas compensa ouvi-la mesmo sem entender nada ou quase nada. Vai ser linda assim lá em casa!)

Há tantas cantatas barrocas maravilhosas, relativamente simples de serem executadas, que fico pasmo ao ver, mais uma vez, que o repertório brasiliense de música clássica é tão pobre. Não sei se o problema é falta de originalidade ou "Síndrome de Transamazônica": o importante é que seja grande (sinfonias e óperas), mesmo que mal-acabadas... Enfim...

Mas vamos à musica theatralis "de verdade", que finalmente dá as caras no Barroco, com suas óperas, balés, pastorales, opéra-ballets, etc, etc. Voltando ao assunto Brasília: acho que o problema é falta de originalidade mesmo, pois não faltam obras complexas, difíceis, de grande envergadura, no Barroco. À exceção do Messias, do Handel (apresentado esporadicamente) e da Missa em si menor, do Bach (apresentada mais ou menos a cada 10 anos), o resto é totalmente ignorado...

Como eu disse que daria descanso para o Monteverdi não poderei colocar nada de L'incoronazzione de Poppea, uma das obras-primas da ópera de todos os tempos. Em compensação, teremos o prazer eu ouvir um trecho lindíssimo da ópera Armide, de Jean-Baptiste Lully:


E uma ária e coro da maravilhosa semi-opera ("mistura" de ópera, balé e peça teatral, onde apenas alguns personagens cantam) The Fairy-Queen, de Henry Purcell, "If Love´s a Sweet Passion":


If Love's a Sweet Passion, why does it torment?
If a Bitter, oh tell me whence comes my content?
Since I suffer with pleasure, why should I complain,
Or grieve at my Fate, when I know 'tis in vain?
Yet so pleasing the Pain, so soft is the Dart,
That at once it both wounds me, and tickles my Heart.
I press her Hand gently, look Languishing down,
And by Passionate Silence I make my Love known.
But oh! I'm Blest when so kind she does prove,
By some willing mistake to discover her Love.
When in striving to hide, she reveals all her Flame,
And our Eyes tell each other, what neither dares Name.

Antes que eu comece a ficar mais desanimado ainda com Brasília, terminemos o Barroco com uma "micro-ópera" (durando cerca de 40 minutos) cômica do Pergolesi: La serva padrona (mais propriamente falando, um intermezzo, apresentado originalmente entre os atos de sua opera seria Il prigionier superbo, que foi traduzida para vários idiomas, sendo apresentada por toda a Europa, à época, e que tornou-se o modelo para praticamente toda ópera cômica do futuro). É quase Mozart!:


(AQUI, o libreto completo em italiano, com tradução em espanhol)


Cenas do próximo capítulo -  Classicismo

Cânone a 4 vozes "Gehn wir im Prater, gehn wir in d'Hetz", KV. 558, do W. A. Mozart:



segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Estilistas na fase oral 1


RÉPI NIU ÍAR!


Depois de mais um mês de "recesso", eis-me que ressurjo dentre as cinzas de 2013! Como demorei demais para reaparecer, chega de delongas.

Naquele dia eu acabei me perdendo no labirinto do meu próprio cérebro e não tivemos tempo de dar uma volta pelos últimos 8 séculos para descobrirmos alguns tesouros enterrados e mostrarmos aos "Estilistas" de plantão que todos os períodos prestam, se você souber procurar. Também tenho certeza de que todos os leitores deste Blog (os 3,5) estão ansiosos para passearem um pouco pela música clássica.

Pronto, já trombamos com o primeiro problema: o que é música clássica? Digo isso porque sua definição, como todo muito já deve imaginar, é praticamente impossível. Muitos já tentaram chegar a uma conclusão; e a conclusão a que chegaram é que cada um tem sua própria conclusão. Conclusão: nem vou tentar!

De qualquer forma, uma das "conclusões" (entre aspas mesmo) a que alguns deles chegaram é que música clássica, ou melhor, música de arte, é aquela que requer um esforço maior, por parte do ouvinte, que a música popular ou folclórica.

Tá vendo o que eu fiz??? Em pouco mais que duas linhas eu consegui botar fogo em qualquer discussão sobre música e dar material para pelo menos mais 800 anos de debates, discussões, brigas, desavenças, divórcios, e até mesmo alguns assassinatos. Essa definição, porém, não é bem o que se imagina: ela considera como "música de arte" também algumas formas que costumamos classificar como populares, como certos estilo de rock progressivo e jazz; e eu incluiria também muitas manifestações do folclore. Mas tentemos não entrar num labirinto sem saída e nos manter dentro da música clássica de tradição européia, para simplificar. E não estranhe por encontrar as palavras "clássica" e "popular" entre aspas, por aqui! É de propósito!

Agora que restringimos o foco, uma pergunta: canto gregoriano é música clássica? Ele não é de origem exatamente européia, apesar de ter se estabilizado por lá, por obra e graça da Igreja Católica. De qualquer modo, o canto gregoriano era música funcional, exclusivamente feita para uso da (e dentro da) Igreja. Apesar de lindo, não era "arte", e nem feito para ser desfrutado como uma forma de expressão estética. Era rito, e não arte, e não consigo nunca chegar a uma conclusão sobre quando o gregoriano deixa de ser apenas música e passa a ser música clássica.

Outra pergunta: a música dos trovadores é clássica ou não? Para mim ela é clássica, mas à época também era muito popular. Será que ela migrou de categoria com o tempo? Ou será que as categorias é que se deslocaram, sobre um fundo musical fixo, e ela acabou indo parar num quadradinho diferente? E será que tem diferença o que realmente aconteceu? Por falar nisso, a música dos troubadours, trouvères, minnesänger, menestréis ("tribos" diferentes de cantores mais ou menos itinerantes) também se origina diretamente do gregoriano!

E Johann Strauss? É clássico ou não?


E o Ernesto Nazaré?


Ou seja, façamos o que todo mundo faz quando escreve um livro sobre história da música "clássica": façamos de conta que todo mundo sabe o que essa expressão significa e entremos correndo na Máquina do Tempo, fugindo dos Morlocks da indefinição!



Hoje em dia é chique gostar de canto gregoriano e do repertório dos "cantores mais ou menos itinerantes", e são poucos os "estilistas" que se atrevem a não gostar deles; não vou, portanto, me dar ao trabalho de procurar exemplos, pois quero economizar um pouco do combustível da Máquina.

Mas acho que vou fazer o seguinte: vou tentar colocar alguns exemplos de cada período, mas somente na música vocal. Talvez assim seja mais divertido, mais interessante, e ainda nos dá motivo para, numa outra oportunidade, fazermos o mesmo com a música puramente instrumental. Gostou da ideia? Se não gostou, está na hora de ir embora daqui, porque é isso mesmo que eu vou fazer. Portanto, com vocês, o primeiro episódio da série Estilistas na fase oral:

Comecemos, então, pelo Renascimento, onde ocorreu uma explosão de música (e de quase tudo mais, como todo mundo sabe.), e onde encontramos inúmeras formas que até hoje fazem parte do vocabulário da música clássica: missas, motetos, madrigais, rondós, virelais, chanson, toccata, prelúdio, madrigal, allemande, courante, etc, etc, etc, etc, etc... Daria para se escrever um tratado de 20 volumes, cada um com 1.000 páginas, sobre a música deste período. Como eu não tenho nem tempo nem competência para destrinchar esse emaranhado de música, também nem vou tentar.

Às vezes eu acho que ser compositor durante aquela época devia ser mais ou menos como ser DJ hoje em dia:


Dezenas de compositores desta época são famosos até hoje: Johannes Ockeghen, Josquin des Prez, Thomas Tallis, Jacob Clemens, Orlando de Lassus, William Byrd, Giovanni Pierluigi da Palestrina, Henrich Isaac, John Dowland, Philippe Verdelot, Cristóbal de Morales, Alexander Agricola, John Taverner, etc, etc, etc, etc. Pena que, apesar de famosos, o repertório desses compositores acaba ficando restrito a uma platéia de especialistas (entre eles, muitos "fetichistas"), e a grande maioria (99,999999%) dos recitais, concertos e espetáculos a que assistimos aqui em Brasília geralmente se restringe ao período que vai do Barroco ao Romantismo, englobando apenas umas duas dúzias de compositores. É uma pena, pois há uma quantidade infinita de música espetacular renascentista (e também de outras épocas, claro).

Um dos meus "renascidos" favoritos é o Cristóbal de Morales, um dos mais dramáticos compositores do período. "Ouvejamos" os Introitus e Kyrie, da Missa pro defunctis:


Outro que adoro é o Clément Janequin, e que nem está na lista de famosos daí de cima. Vamos ouvir seu madrigal cubicularis, "Le Chant des oiseaux":


(O texto, em francês e na versão em inglês, está AQUI. )

Essa próxima gravação abaixo é mais "profissional", mas eu acho que esta música costumava na verdade ser cantada como no vídeo daí de cima, pois era música para se fazer, e não música para simplesmente se ouvir. Aposto que todo mundo queria participar dessa piação, e também aposto que faziam competições para decidir quem conseguia uma interpretação mais "passarinhenta".  Eu adoraria participar desse torneio! De qualquer maneira, outro vídeo da mesma canção:


A musica theatralis deixaremos de fora, por hora, pois falar música de teatro na Renascença é complicado. Claro que havia espetáculos de teatro onde a música podia estar presente; a commedia dell'arte, por exemplo, utilizava música, mas esta era tão improvisada quanto a encenação propriamente dita. Madrigais cubicularis podiam ser (e eram) utilizados, assim como o imenso repertório de canções tanto antigas (dos trovadores e outros) quanto contemporâneas (frotollas, canzonettas, etc), mas exatamente o que era essa música teatral, ninguém tem certeza.

Outras ocasiões também podiam exigir música específica, como era o caso de bailes de máscara, espetáculos de dança, desfiles cívicos, pastorais, porém toda essa música não pode ser considerada como theatralis. A musica theatralis propriamente dita é uma invenção mais tardia, que realmente só toma forma durante o Barroco, quando novas formas musicais (ópera, principalmente) aparecem e marcam realmente o início da música para teatro.

Porém não dá para passarmos pelo Renascimento e ouvirmos apenas dois exemplos; daria para se encher um Louvre só com a música daquela época, onde há uma infinidade de estilos para agradar a qualquer criatura. Vamos então a outros exemplos, já lá pelo final do período. Primeiro, um dos compositores mais "clássicos" que já existiram, considerado por séculos o Leonardo da música renascentista, e cuja obra é até hoje um dos pilares do equilíbrio sonoro e da perfeição técnica, o Giovanni Pierluigi da Palestrina. Este é o Kyrie de sua Missa Papae Marcelli:

(Espetacular!!!)

E, no outro extremo, digamos assim, mais novo que Palestrina e já beirando o Barroco, temos um dos mais desequilibrados (no sentido de excessivo, estranho, maluquinho), Gesualdo da Verona, que também não está naquela lista lá de cima, aqui representando a musica cubicularis  com seu madrigal "Io pur respiro in così grande dolore":


(É quase o Wagner do Renascimento, com suas harmonias às vezes tão estranhas)

Ou, num estilo completamente diferente, John Dowland, que poderia fazer sucesso até hoje em qualquer karaokê se fosse apresentado num arranjo diferente:


Ó só como eu não estou mentindo! Parece música dos anos 70 (claro que o cabelinho e a flor no braço também ajudam a dar um clima flower power):


E agora que já vimos quase 0,00000000001% da música do Renascimento, vamos para o mais popular de todos os períodos, o Barroco. Hoje em dia é difícil encontrarmos quem não goste de Barroco, mas às vezes nos deparamos com alguns fetichistas resmungando pelos cantos: "Só gosto do Barroco italiano"; "Eu só gosto do Barroco francês"; "Eu só gosto do Barroco alemão"; "Eu só gosto de Giuseppe Torelli"; "Eu não suporto Vivaldi". Assim como é chique gostar de música do Renascimento, também é chique "no úrtimo" dizer que os compositores barrocos mais populares são piores que aqueles mais "esotéricos", menos conhecidos.

Uma exceção a essa regra é o nosso velho amigo Jotaésse Bach. Vai ser difícil você encontrar alguém, por mais chique que seja, dizer que não gosta dele. Como o Iôrran é unanimidade, não vamos falar dele aqui neste post. Nós já ouvimos tanto, mas tanto, Bach, que vai ser bom colocá-lo um pouco de escanteio e dar chance para outros "barroqueiros". Já ouvimos também bastante Monteverdi e Scarlatti, e hoje eles também descansarão.

Eles não farão tanta falta, pois, se no Renascimento já havia mais compositores do que gente, no Barroco a coisa ficou ainda mais complicada, pois os alemães também entram em cena. É estranho pensarmos em música clássica sem pensarmos nos alemães, que até então, estranhamente, eram totalmente desimportantes. Vamos aproveitar a deixa e começar o Barroco por um dos primeiros alemães "de classe", o responsável por adaptar para o gosto "bárbaro" alemão a melhor música italiana da época (Monteverdi, Gabrielli e Frescobaldi). Uma salva de palmas para Heinrich Schütz, representando a musica ecclesiastica, em Die sieben Worte Jesu Christi am Kreuz, SWV 478:



Original em latim e versão em inglês, pois não achei em português:

1. Introitus
Da Jesus an dem Kreuze stund und ihm sein Leichnam war verwund’t sogar mit bitterm Schmerzen, die sieben Wort, die Jesus sprach, betracht in deinem Herzen.
1. Introduction
While Jesus was on the Cross and his body was wounded with bitter pains, contemplate in your heart the seven words that Jesus spoke.
2. Symphonia
2. Symphonia
3. Evangelist - A
Und es war um die dritte Stunde, da sie Jesum
kreuzigten. Er aber sprach:      
3. Evangelist – A
And it was around the third hour, when they crucified Jesus.
He said, however:
4. Jesus
Vater, vergieb ihnen; denn sie wissen nicht, was sie tun!
4. Jesus
Father, forgive them; for they know not what they do!
5. Evangelist - T
Es stand aber bei dem Kreuze Jesu seine Mutter und seiner Mutter Schwester, Maria, Cleophas Weib, und Maria Magdalena. Da nun Jesus seine Mutter sahe und den Jünger dabei stehen, den er lieb hatte, sprach er zu seine Mutter:
5. Evangelist – T
However there stood by Jesus' Cross His mother and His mother's sister, Mary, the wife of Cleophas, and Mary Magdalene. Now when Jesus saw His mother and the disciple standing near, whom He loved, He said to His mother:
6. Jesus
Weib, siehe, das ist dein Sohn!
6. Jesus
Woman, behold, this is your son!
7. Evangelist - T
Darnach spricht er zu dem Jünger:
7. Evangelist – T
Afterwards He said to the disciple:
8. Jesus
Johannes, siehe, das ist deine Mutter!
8. Jesus
John, behold, this is your mother!
9. Evangelist - T
Und von Stund an nahm sie der Jünger zu sich.
9. Evangelist – T
And from that hour the disciple took her to himself.
10. Evangelist - S
Aber der Übeltäter einer, die da gehenkt waren, lästert’ ihn und sprach:
10. Evangelist – S
But one of the criminals who were hanging there cursed at Him and said:
11. Schächer zur Linken
Bist du Christus, so hilf dir selbst und uns!
11. Thief on the Left
If You are the Christ, then help Yourself and us!
12. Evangelist - S
Da antwortete der ander, strafte ihn und sprach:
12. Evangelist – S
Then the other answering, scolded him and said:
13. Schächer zur Rechten
Und du fürchtest dich auch nicht vor Gott, der du doch in gleicher Verdammnis bist ? Und zwar wir sind billig darinnen, denn wir emfangen, was unsre Taten wert sind; dieser aber hat nichts Ungerechtes gehandelt.
13. Thief on the Right
So you do not fear God, even though you are in such condemnation? And indeed we are justly here, for we know that our deeds have earned it; but this person has done nothing unjust.
14. Evangelist - S
Und sprach zu Jesu:
14. Evangelist – S
And he said to Jesus:
15. Schächer zur Rechten
Herr gedenke an mich, wenn du in dein Reich kommst !
15. Thief on the Right
Lord, think of me when You come into Your Kingdom!
16. Evangelist – S
Und Jesus sprach:
16. Evangelist – S
And Jesus said:
17. Jesus
Wahrlich ich sage dir: Heute wirst du mit mir im Paradies sein.
17. Jesus
Truly I say to you: today you will be with me in Paradise.
18. Evangelist
Und um die neunte Stunde schrie Jesus laut und sprach:
18. Evangelist
And at the ninth hour Jesus cried aloud and said:
19. Jesus
Eli, Eli, lama asabthani?
19. Jesus
Eli, Eli, lama asabthani?
20. Evangelist
Das ist verdolmetschet:
20. Evangelist
That is translated as:
21. Jesus
Mein Gott, mein Gott, warum hast du mich
verlassen?
21. Jesus
My God, my God, why have you forsaken Me?
22. Evangelist - A
Darnach als Jesus wußte, daß schon alles
vollbracht war, daß die Schrift erfüllet würde, sprach er: 
22. Evangelist – A
Afterwards, when Jesus knew that everything was already accomplished, so that the Scripture might be fulfilled, He said:
23. Jesus
Mich dürstet!
23. Jesus
I thirst!
24. Evangelist - T
Und einer von den Kriegesknechten lief bald hin, nahm einen Schwamm und füllte ihn mit Essig und Ysopen und steckte ihn auf ein Rohr und hielt ihn dar zum Munde und tränkte ihn. Da nun Jesus den Essig genommen hatte,
sprach er:
24. Evangelist
And one of the soldiers ran quickly, took a sponge and filled it with vinegar and hyssop, placed it on a reed and held it directly to His mouth to quench Him.
Now when Jesus had taken the vinegar, He said:
25. Jesus
Es ist vollbracht!
25. Jesus
It is finished!
26. Evangelist - T
Und abermal rief Jesus laut und sprach:
26. Evangelist – T
And also Jesus cried aloud and said:
27. Jesus
Vater, ich befehle meinen Geist in deine Hände!
27. Jesus
Father, I commit My spirit into Your Hands!
28. Evangelist
Und als er das gesagt hatte, neiget er das Haupt und gab seinen Geist auf.
28. Evangelist
And as He said this, He bowed His head and gave up His spirit.
29. Symphonia
29. Symphonia
30. Conclusio
Wer Gottes Marter in Ehren hat und oft gedenkt der sieben Wort, des will Gott gar eben pflegen, wohl hie auf Erd mit seiner Gnad, und dort in dem ewigen Leben.
30. Conclusion
Whoever honors God’s martyrdom and often considers the Seven Words will certainly serve God, here on earth through His Grace, and there in the everlasting life.


Eu disse que daria descanso para o Scarlatti, mas não expliquei qual deles. Daremos descanso para o Domenico e iremos ouvir um pouquinho da música de seu pai, Alessandro, com o Kyrie e Gloria da Missa de Santa Cecília, numa gravação da Camerata Antiqua de Curitiba (aliás, cada vez me convenço mais de que Brasília, em se tratando de música clássica, está ficando boa para se ir a restaurantes):


Para quem tiver gostado desse "novo" Scarlatti, sugiro ouvir também seu Stabat Mater. "Chega-dói" de tão lindo:


Como o vídeo não tem legenda, aqui vai o texto do hino Stabat mater dolorosa:

Stabat mater dolorosa
juxta Crucem lacrimosa,
dum pendebat Filius.
Cuius animam gementem,
contristatam et dolentem
pertransivit gladius.
O quam tristis et afflicta
fuit illa benedicta,
mater Unigeniti!
Quae mœrebat et dolebat,
pia Mater, dum videbat
nati pœnas inclyti.
Quis est homo qui non fleret,
matrem Christi si videret
in tanto supplicio?
Quis non posset contristari
Christi Matrem contemplari
dolentem cum Filio?
Pro peccatis suæ gentis
vidit Iesum in tormentis,
et flagellis subditum.
Vidit suum dulcem Natum
moriendo desolatum,
dum emisit spiritum.
Eia, Mater, fons amoris
me sentire vim doloris
fac, ut tecum lugeam.
Fac, ut ardeat cor meum
in amando Christum Deum
ut sibi complaceam.
Sancta Mater, istud agas,
crucifixi fige plagas
cordi meo valide.
Tui Nati vulnerati,
tam dignati pro me pati,
pœnas mecum divide.
Fac me tecum pie flere,
crucifixo condolere,
donec ego vixero.
Juxta Crucem tecum stare,
et me tibi sociare
in planctu desidero.
Virgo virginum præclara,
mihi iam non sis amara,
fac me tecum plangere.
Fac, ut portem Christi mortem,
passionis fac consortem,
et plagas recolere.
Fac me plagis vulnerari,
fac me Cruce inebriari,
et cruore Filii.
Flammis ne urar succensus,
per te, Virgo, sim defensus
in die iudicii.
Christe, cum sit hinc exire,
da per Matrem me venire
ad palmam victoriæ.
Quando corpus morietur,
fac, ut animæ donetur
paradisi gloria. Amen.

Mas não é possível pensarmos em Stabat Mater sem pensarmos num outro exemplo deslubrante, já do finalzinho do Barroco, de outro italiano, Giovanni Battista Pergolesi. Não é tão homogeneamente lindo quanto o do Scarlatti, mas seu primeiro trecho (entre outros), "Stabat mater dolorosa", é espetacular. Não é nenhum tesouro enterrado e recém-descoberto, e sim umas das "músicas populares" da "música clássica". Esta é uma das gravações mais excepcionais que já ouvi dessa peça, com uma soprano e um contratenor absolutamente fabulosos! Na próxima encarnação eu quero voltar como qualquer um deles! E se alguém quiser me dar esta gravação de presente, eu aceito!:


Interromperemos a programação de hoje porque preciso ficar o resto da semana só ouvindo Pergolesi e D. Scarlatti.


Depois tem mais, pessoal!