Eu sei que para muitos este pode ser um assunto chato, mas é impossível gostar de música clássica sem ao menos se ter uma ideia musical do que é uma missa.
A missa católica é formada por duas partes distintas, liturgicamente falando. Synaxis, a primeira, é derivada do rito judeu e composta basicamente de salmos, leituras e orações, cercada e entremeada por música:
- Introitus (procissão de entrada do celebrante e acólitos);
- Kyrie;
- Gloria (à exceção da Quaresma e Advento, quando o Gloria não está presente);
- Coleta (oração do dia);
- Primeira leitura (geralmente do antigo Testamento ou das Epístolas)
- Gradual (ou Alleluia);
- Alleluia (ou Tractus);
- Leitura do Evangelho:
- Credo.
A segunda parte, Eucaristia, é especificamente cristão e liturgicamente mais importante, englobando:
- Offertorium;
- Prefácio (diálogo entre o celebrante e a congregação: "Corações ao alto"; "O nosso coração está em Deus"; etc...);
- Sanctus (com Benedictus);
- Cânon (feito silenciosamente pelo celebrante) e consagração do pão e vinho;
- Pater noster;
- Agnus Dei;
- Comunhão;
- Ite, missa est, e benção final.
Essa lista não representa absolutamente todas as partes de uma missa, mas são as mais estáveis, e/ou mais importantes musicalmente (algumas mais que outras). Em uma missa cantada, aqueles itens que apresentei em negrito são executados pelo coro (e/ou cantada pela própria congregação), e os demais são entoados pelo celebrante, de acordo com fórmulas recitativas muito simples, com as quais não vou nem me preocupar por enquanto.
Os trechos musicalmente mais importantes (aqueles em negrito), porém, são de dois tipos muito diferentes entre si. O primeiro grupo é conhecido como Próprio, cujo nome deriva do fato de que há textos apropriados para a ocasião: para o dia do Natal, a Sexta-feira Santa, o Domingo de Páscoa, etc); para a missa em questão (primeira missa de Natal, segunda missa de Natal, terceira missa etc...); para a festa celebrada (dias de santos, por exemplo),; ou, ainda, para a época (Quaresma, Advento, etc).
O Próprio inclui Introitus, Gradual, Alleluia, Tractus, Offertorium, Comunhão, além de outros trechos menos fixos, sendo que a música também muda de acordo com o texto: cada trecho do Próprio costuma ter sua música própria, grosso modo.
O Próprio é a parte mais antiga da missa, e essa "música antiga" geralmente corresponde ao que conhecemos como canto gregoriano: cada trecho de texto pode ser cantado por uma pessoa apenas (celebrante) ou por vários cantores (coro e/ou congregação), mas é sempre uma música monofônica. Ou seja: todo mundo canta a mesma coisa, independentemente do número de executantes:
A repetição Alleluia, Alleluia (na minha legenda, abaixo do vídeo) não é erro, não! O par de trechos composto por Gradual + Alleluia é substituído por Gradual + Tractus durante épocas de penitência (Quaresma) e missas de Requiem, ou substituído por duas Alleluias durante a época mais alegre que se segue à Páscoa, como no exemplo acima.
A música do Próprio, porém, não precisa necessariamente ser monofônica, e existem muitos exemplos de composições polifônicas para esse grupo, incluindo o Magnus liber organi de Léonin, posteriormente retrabalhado, digamos assim, por Pérotin (um dia, quem sabe, falo um pouco deles), que estão entre os exemplos mais antigos de polifonia:
A missa católica é formada por duas partes distintas, liturgicamente falando. Synaxis, a primeira, é derivada do rito judeu e composta basicamente de salmos, leituras e orações, cercada e entremeada por música:
- Introitus (procissão de entrada do celebrante e acólitos);
- Kyrie;
- Gloria (à exceção da Quaresma e Advento, quando o Gloria não está presente);
- Coleta (oração do dia);
- Primeira leitura (geralmente do antigo Testamento ou das Epístolas)
- Gradual (ou Alleluia);
- Alleluia (ou Tractus);
- Leitura do Evangelho:
- Credo.
A segunda parte, Eucaristia, é especificamente cristão e liturgicamente mais importante, englobando:
- Offertorium;
- Prefácio (diálogo entre o celebrante e a congregação: "Corações ao alto"; "O nosso coração está em Deus"; etc...);
- Sanctus (com Benedictus);
- Cânon (feito silenciosamente pelo celebrante) e consagração do pão e vinho;
- Pater noster;
- Agnus Dei;
- Comunhão;
- Ite, missa est, e benção final.
Essa lista não representa absolutamente todas as partes de uma missa, mas são as mais estáveis, e/ou mais importantes musicalmente (algumas mais que outras). Em uma missa cantada, aqueles itens que apresentei em negrito são executados pelo coro (e/ou cantada pela própria congregação), e os demais são entoados pelo celebrante, de acordo com fórmulas recitativas muito simples, com as quais não vou nem me preocupar por enquanto.
Os trechos musicalmente mais importantes (aqueles em negrito), porém, são de dois tipos muito diferentes entre si. O primeiro grupo é conhecido como Próprio, cujo nome deriva do fato de que há textos apropriados para a ocasião: para o dia do Natal, a Sexta-feira Santa, o Domingo de Páscoa, etc); para a missa em questão (primeira missa de Natal, segunda missa de Natal, terceira missa etc...); para a festa celebrada (dias de santos, por exemplo),; ou, ainda, para a época (Quaresma, Advento, etc).
O Próprio inclui Introitus, Gradual, Alleluia, Tractus, Offertorium, Comunhão, além de outros trechos menos fixos, sendo que a música também muda de acordo com o texto: cada trecho do Próprio costuma ter sua música própria, grosso modo.
O Próprio é a parte mais antiga da missa, e essa "música antiga" geralmente corresponde ao que conhecemos como canto gregoriano: cada trecho de texto pode ser cantado por uma pessoa apenas (celebrante) ou por vários cantores (coro e/ou congregação), mas é sempre uma música monofônica. Ou seja: todo mundo canta a mesma coisa, independentemente do número de executantes:
(Próprios para o terceiro domingo após a Páscoa, com Introitus, Alleluia, Alleluia, Offertorium e Comunhão)
MARAVILHOSO!
ABRE PARÊNTESES (
A repetição Alleluia, Alleluia (na minha legenda, abaixo do vídeo) não é erro, não! O par de trechos composto por Gradual + Alleluia é substituído por Gradual + Tractus durante épocas de penitência (Quaresma) e missas de Requiem, ou substituído por duas Alleluias durante a época mais alegre que se segue à Páscoa, como no exemplo acima.
) FECHA PARÊNTESES
A música do Próprio, porém, não precisa necessariamente ser monofônica, e existem muitos exemplos de composições polifônicas para esse grupo, incluindo o Magnus liber organi de Léonin, posteriormente retrabalhado, digamos assim, por Pérotin (um dia, quem sabe, falo um pouco deles), que estão entre os exemplos mais antigos de polifonia:
(Gradual "Viderunt omnes" de Léonin, para uma missa de Natal)
(O mesmo Gradual, de Pérotin)
O segundo grupo de textos e toda missa é conhecido como Ordinário, alguns deles incluídos muito mais recentemente na missa que aqueles do Próprio. Este grupo engloba os trechos "comuns", como Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus (com Benedictus) e Agnus Dei, cujos textos são fixos, invariáveis.
Apesar de ordinários (invariáveis), era comum que alguns desses trechos, principalmente durante a Idade Média, fossem interpolados com novos textos, tornando-os próprios. O Kyrie, por exemplo, podia receber um texto diferente, apropriado ao dia, acrescentado ao texto original:
Apesar de ordinários (invariáveis), era comum que alguns desses trechos, principalmente durante a Idade Média, fossem interpolados com novos textos, tornando-os próprios. O Kyrie, por exemplo, podia receber um texto diferente, apropriado ao dia, acrescentado ao texto original:
Tibi Christe supplices exoramus cunctipotens,
ut nostri digneris eleison,
Tibi laus decet cum tripudio iugiter
atque tibi petimus dona eis eleison,
O bone Rex qui super astra sedes
et Domine qui cuncta gubernas eleison,
etc...
Esse tipo de alteração acabou caindo em desuso e/ou sendo proibida, o Ordinário assumiu sua forma definitiva, fixa até hoje, e a maioria de seus textos caiu no gosto dos compositores e nunca parou de ser musicada.:
I. Kyrie
Kyrie eleison (3 vezes)
Christe eleison (3 vezes)
Kyrie eleison (3 vezes)
II. Gloria
Gloria in excelsis Deo
et in terra pax hominibus bonae voluntatis.
Laudamus te,
benedicimus te,
adoramus te,
glorificamus te,
gratias agimus tibi
propter magnam gloriam tuam,
Domine Deus, Rex caelestis,
Deus Pater omnipotens.
Domine Fili unigenite Jesu Christe,
Domine Deus, Agnus Dei, Filius Patris,
qui tollis peccata mundi, miserere nobis.
Qui tollis peccata mundi,
suscipe deprecationem nostram.
Qui sedes ad dexteram Patris,
miserere nobis.
Quoniam tu solus sanctus,
tu solus Dominus,
tu solus altissimus, Jesus Christe,
cum sancto Spiritu, in gloria Dei Patris.
Amen.
III. Credo
Credo in unum Deum Patrem omnipotentem,
Factorem cæli et terræ,
visibilium omnium et invisibilium
Et in unum Dominum, Iesum Christum,
Filium Dei unigenitum
Et ex Patre natum, ante omnia sæcula
Deum de Deo, lumen de lumine,
Deum verum de Deo vero
Genitum, non Factum, consubstatialem Patri:
Per quem omnia facta sunt
Qui propter nos homines,
Et propter nostram salutem,
Descendit de cælis
Et incarnatus est de Spiritu Sancto,
Ex Maria Virgine: et homo factus est
Crucifixus etiam pro nobis:
Sub Pontio Pilato,
Passus et sepultus est
Et resurrexit tertia die,
Secundum Scripturas
Et ascendit in cælum:
Sedet ad dexteram Patris
Et iterum venturus est cum gloria,
Iudicare vivos et mortuos:
Cuius non erit finis
Et in Spiritum Sanctum,
Dominum et vivificantem:
Qui ex Patre Filioque procedit
Qui cum Patre et Filio,
Simul adoratur, et conglorificatur:
Qui locutus est per Prophetas
Et unam, sanctam, catholicam,
Et apostolicam Ecclesiam
Confiteor unum baptisma,
In remissionem peccatorum
Et exspecto resurrectionem mortuorum
Et vitam venturi sæculi
Amen.
IV. Sanctus (com Benedictus)
Sanctus, Sanctus, Sanctus
Dominus, Deus Sabaoth
Pleni sunt cæli et terra gloria tua.
Hosanna in excelsis.
Benedictus qui venit
In nomine Domini.
Hosanna in excelsis.
Sanctus, Sanctus, Sanctus
Dominus, Deus Sabaoth
Pleni sunt cæli et terra gloria tua.
Hosanna in excelsis.
Benedictus qui venit
In nomine Domini.
Hosanna in excelsis.
VI. Agnus Dei
Agnus Dei
Qui tollis peccata mundi
miserere nobis (2 vezes)
Agnus Dei
Qui tollis peccata mundi
Dona nobis pacem
Outros trechos também são ordinários, mas nunca receberam tanta atenção dos compositores e não fazem parte, tradicionalmente, do gênero musical Missa (como o Pater Noster e o Ite, missa est):
(Pater noster gregoriano)
(De "brinde", o Pater Noster de Villa-Lobos - com o Coral da Unb, quem diria!!!!)
Concluindo: quando falamos em missas, na música do século XV em diante, estamos falando desse grupo geralmente composto por Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus (com Benedictus) e Agnus Dei. Os compositores, porém, têm a liberdade de acrescentar, retirar, substituir um ou mais trechos, ainda mais se a missa em questão não for composta para ser apresentada durante a celebração.
PS: Sobre missa de requiem, um tanto quanto diferente, falaremos outro dia!
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