Já que eu falei em missa, achei por bem apresentar aqui a Missa de Notre Dame, do Guillaume de Machaut (c.1330-1377), que é o primeiro exemplo conhecido (provavelmente da década de 1360) de missa cujo Ordinário foi inteiramente composto por uma só pessoa, pois, antes de Machaut (e depois também, por falar nisso), era comum que os diferentes trechos fossem concebido apenas em pares - Gloria e Credo, ou Sanctus e Agnus Dei, etc.
A Missa do Machaut é a primeira que usa as cinco partes mais comuns do Ordinário (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Agnus Dei), e mais o Ite, missa est, que não é geralmente musicado nas missas. E, como foi composta pela mesma pessoa, à mesma época, apresenta uma unidade estilística muito maior, obviamente, que as missas anteriores, que costumavam ser colchas de retalhos, com diferentes trechos - tanto do Próprio quanto do Ordinário - de diferentes épocas, estilos, por diferentes compositores, etc.
Machaut é o maior exemplo, para muitos, da Ars nova, um estilo que brotou no século XIV a partir do desenvolvimento de uma nova forma de escrita musical mais clara e que tornou possível a composição de linhas melódicas ritmicamente mais variadas que na música da época anterior.
Pode ser meio difícil, atualmente, notar essa riqueza rítmica; então, para ilustrar a diferença, abaixo estão dois trechos de uma missa compilada mais ou menos à mesma época (na década de 1340), conhecida como Missa de Tournais, com trechos composto em diferentes estilos. O primeiro vídeo é do Sanctus, composto no estilo antigo - conhecido, depois da Ars nova, como Ars antiqua - e o segundo é o Credo, já no novo estilo:
e cujo resultado é este:
A Missa do Machaut é a primeira que usa as cinco partes mais comuns do Ordinário (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Agnus Dei), e mais o Ite, missa est, que não é geralmente musicado nas missas. E, como foi composta pela mesma pessoa, à mesma época, apresenta uma unidade estilística muito maior, obviamente, que as missas anteriores, que costumavam ser colchas de retalhos, com diferentes trechos - tanto do Próprio quanto do Ordinário - de diferentes épocas, estilos, por diferentes compositores, etc.
Machaut é o maior exemplo, para muitos, da Ars nova, um estilo que brotou no século XIV a partir do desenvolvimento de uma nova forma de escrita musical mais clara e que tornou possível a composição de linhas melódicas ritmicamente mais variadas que na música da época anterior.
Pode ser meio difícil, atualmente, notar essa riqueza rítmica; então, para ilustrar a diferença, abaixo estão dois trechos de uma missa compilada mais ou menos à mesma época (na década de 1340), conhecida como Missa de Tournais, com trechos composto em diferentes estilos. O primeiro vídeo é do Sanctus, composto no estilo antigo - conhecido, depois da Ars nova, como Ars antiqua - e o segundo é o Credo, já no novo estilo:
(Sanctus)
(Credo)
Conseguiu notar a diferença?
Essa nova notação da Ars nova vai permitir estripulias visuais como "Belle, bonee, sage", um rondó de Baude Cordie (algum lugar entre 1330 e 1440), notado desta maneira:
e cujo resultado é este:
Belle, bonne, sage, plaisante et gente,
A ce jour cy que l'an se renouvelle,
Vous fais le don d'une chanson nouvelle
Dedans mon cuer qui a vous se presente.
De recevoir ce don ne soyés lente,
Je vous suppli,ma doulce damoyselle.
Belle, bonne, sage… (etc.)
Car tant vous aim qu'aillours n'ay mon entente,
Et sy scay que vous estes seulle celle.
Qui fame avés que chascun vous appelle:
Flour de beauté sur toutes excellente.
Belle, bonne, sage... (etc.)
Para se ter uma ideia melhor do que era uma missa no século XIV, com sua música de diferentes estilos (como eu disse mais acima), resolvi colocar a versão pelo Ensemble Gilles Binchois, em que eles executam não só o Ordinário, composto por Machaut, mas também o Próprio (Introitus Gaudeamus omnes in Domino, Regina mundi e outros trechos) intercalado com a música original de Machaut).
Gostei de eles terem acrescentado um Introitus polifônico (mais antigo que a Missa, me parece), pois nos dá a chance de também contrastá-lo com o mesmo Introitus em sua versão original, em gregoriano:
- Introitus em gregoriano:
E a missa inteira, como poderia ter sido executada àquela época: o Ordinário: Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Agnus Dei, Ite, missa est), e mais o Próprio: Introitus, Gradual, Alleluia, Leitura, Regina mundi:
Para aqueles que quiserem ouvir mais uma gravação da mesma obra, segue a execução pelo Ensemble Organum. Confesso que acho muito estranha a versão que eles deram para a Missa, muito "oriental" demais para o meu gosto, mais Bizâncio que Roma. Claro que isso pode ser apenas preconceito meu, acostumado que estou com o estilo "tradicional" de se executar música antiga. Como ninguém tem certeza absoluta do como essa música soava, originalmente, acho que a interpretação deles também tá valendo!:
E agora, ite, post est!
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