Cansei-me de ficar atualizando vídeos! Preciso dar um tempo, antes de enlouquecer de verdade. Resolvi, portanto, dar início a uma nova série neste blog, dedicada a assuntos não-musicais, já que, quando se escreve um blog - por mais meia-boca que seja - acaba-se fuçando tanto, mas tanto, que você, sem querer, descobre coisas (nem sempre) interessantes. Com vocês, o episódio de hoje:
"I'm silly, colleague; ou: Mamãe aqui estou eu, sou homem com H"
Num dos vídeos que incluí recentemente apareceu, para meu espanto, esta propaganda:
Como não podia de ser, acabei me lembrando disso aqui:
O Angeli, aliás, também achava que "uma coisa" está muito próxima de "outra coisa":
Ou, como dizia o Nanico:
Serve para outros assuntos, além de política! Mas, pensando bem, não deve ser a sério essa propaganda do Old Spice lá em cima. Deem uma olhada no site www.homenidade.com.br (!!!!!!!!!!!). Não pode ser a sério!
Como vimos no post anterior, estou corrigindo os vídeos todos e, quanto mais eu fuço, mais coisa aparecem no meu cérebro - ou, como dizia um ex-amigo meu "Quando mais eu rezo, mais assombração aparece" - e acabei me lembrando, mais atrasado do que nunca, de outra música, o Batuque, da ópera Malazarte, incluído na suíteReisado do Pastoreio, do brasileiro Lorenzo Fernández. Não é exatamente carnaval, mas qualquer batuque de qualidade tá valendo:
Não podemos, porém, deixar esse post tão pequenininho, e incluirei outro vídeo da mesma obra, com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais:
E ainda mais outro, agora com a Orquestra Sinfônica Nacional:
Mas vamos parar por aqui, pois o Batuque está ficando cada vez mais desanimado...
Tô bobo, colega! Descobri na sexta-feira - depois de quase um ano - que os vídeos do blognão aparecem quando você o acessa por celular! Que coisa! Ainda bem que eu não sou uma toupeira-informática (ironia, ok?).
Graças aos céus de Brasília (ó só que lindo!)...
... existe o Gúgou para nos (me) socorrer.
Acabei descobrindo (eu, a toupeira) que a maioria dos smartphones (nem tão smarts assim, pelo visto) só conseguem visualizar vídeos do YouTube quando você insere, por meio do "editor de html" do blog, o embedded code do vídeo que você quer que apareça no kindofsmartphone. Deu pra entender? Se você for como eu, precisará futucar bastante até descobrir o que é que querem dizer com isso - mas eu sou uma anta, e não valho como referência.
Resultado: preciso editar cada um dos posts, e, em cada um deles, editar cada um dos vídeos, o que significa abrir um a um lá no YT, clicar em "compartilhar", depois clicar em "incorporar", depois copiar a informação que é apresentada, depois ir no editor do Blogger, abrir o post em questão, localizar o vídeo, clicar com o botão direito nele, selecionar "inspecionar elemento", clicar com o botão direito no tal "elemento", selecionar "editar como HTML", apagar o que tem lá, e colar aquela informação que copiei lá do IúTúbi.
Terei que repetir esse passos alguns milhares de vezes até que todos os vídeos tenham sido "âpdeitados". Socorro! Ainda bem que eu sou rico, não preciso ir trabalhar, nem cuidar de casa, nem cuidar dos meus bichos, nem tomar banho, nem dormir, nem fazer mais nada na vida além de alimentar, cuidar, dar banho e limpar a bunda deste blog.
Também, ninguém me obrigou a fazer nada disso! Agora aguente!
Enfim... Tudo isso para dizer que eu sou TOC-TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo em dobro) e preciso arrumar tudo antes de publicar mais alguma coisa. Como se não bastasse, a minha mais assídua leitora (a assídua leitora, a única) me pediu para escrever sobre danças na música clássica. Como todo mundo pode imaginar, a lista "básica" deve ter, por baixo, 2.748 danças diferentes, e provavelmente me dará trabalho escrever sobre esse assunto! E também dará trabalho a quem quiser ler, pois teremos que dividir o assunto em pequenas (ou grandes) doses homeopáticas (ou alopáticas). Ou seja: aproveite para ir ao cinema, viajar, reformar sua casa, aprender algum idioma, escrever um livro, pois passaremos algum tempo sem novidades por aqui.
Então tá, é isso! Até a próxima, quando eu acabar de "âpdeitar" os vídeos.
P.S.: Essa foto aí de cima é by myself mesmo, tirada da minha sacada, sem filtro nenhum. Essa cor "ridícula" é de verdade! Como diz uma grande amiga minha: "Que céu celestial!"
P.S. 2: O bom é que agora eu já sei como incluir direitinho os vídeos, e, daqui pra frente, tudo vai ser diferente!
P.S. 3: Não parece que o Tim Burton copiou esse "modelito" do Roberto Carlos em seu filme A Fantástica Fábrica de Chocolate?
Aliás, é de graça, como (quase) todo concerto de nossa Orquestra Sinfônica. Ó só o programa para a quarta-feira da semana que vem, retirado DAQUI:
26/03 - Homenagem a Richard Wagner
Solista: Netanel Draiblate
Regente: Claudio Cohen.
Muito profissional! Adorei o programa do concerto: "Homenagem a Richard Wagner". O que será? Celebração de uma missa para comemorar os 200(+1) anos do nascimento do Ricardão? Ou será que vai ter uma recepção, com direito a canapés e discurso? Imagino que seja uma homenagem musical mesmo, claro, já que vai ter um solista... Aliás, solista de quê? Xilofone? Mas imagino que seja um cantor, né?, já que estamos falando de Wagner...
Se você imaginou a mesma coisa que eu, parabéns: erramos juntos, pois o solista é um violinista!!!:
E depois sou obrigado a ouvir críticas às minhas críticas... O mínimo que se espera do Teatro NACIONAL é um pouquinho de profissionalismo. Ou, se não tem prazer em ser profissional, finja, para que ao menos o público não fique achando que é tudo "nas coxas".
Ó só este programa:
07/05 - Concerto Europeu
Bela Bartok - Danças Húngaras
F.Chopin - concerto no.1 para piano e orquestra
J. Sibelius - concerto para violino e orquestra
Solista - Fréderic Pelassy (violino
M. de Falla - El amor brujo
Regente Vladimir Prado
Levemente menos pior. Sabemos que, neste caso, o Fréderic Pelassy é violinista, e que vai tocar o concerto do Sibelius. Bom saber! E melhor ainda seria também saber quem vai ser o pianista no concerto do Chopin, você não acha?
Também seria legal se tivesse ":" depois da palavra Regente. Se possível, seria legal se depois de "F." tivesse um espaço antes de se escrever Chopin. Ou um "fecha parênteses" depois de violino... Mas aí, também, é querer demais, né? Além de querer informação musical certa, ainda faço questão de português bem escrito? Pra quê?
Mais um exemplo, quer?
1º/05 - Concerto do Trabalhador
18hs - Torre de TV
G VERDI - Abertura Nabucco 8'
G BIZET - Farandole da Suíte Arlesienne 4'
A BORODIN - Danças Polovtsianas de Príncipe Igor 11'
M FALLA - Dança Final: Jota de O Chapéu de Três Pontas 5'
A CARLOS GOMES - Alvorada de Lo Schiavo 6'
HEITOR VILLA LOBOS - O Trenzinho do Caipira (orquestração para orquestra 3.2.2.2-4.3.3.1-timp-perc-cordas) 4'
HEITOR VILLA LOBOS - Na Corda da Viola (orquestração para orquestra 3.2.2.2-4.3.3.1-timp-perc-cordas)
A PIZZAIOLA - Ádiós Nomino (orquestração para orquestra 3.2.2.2-4.3.3.1-timp-perc-cordas) 6'
MILTON NASCIMENTO / CHICO BUARQUE - O Cio da Terra 4'
CLÓVIS PEREIRA/GUERA-PEIXE-Mourão (orquestração para orquestra 3.2.2.2-4.3.3.1-timp-perc-cordas) 4'
Regente Matheus Araújo
Tenho a impressão de que o programa que é publicado no site da Secretaria de Cultura do DF é feito pela primeira pessoa que, por um azar, passar por perto. Ou pessoas diferentes escrevem cada um deles, ou estamos frente a um caso claro de múltiplas personalidades! Nesse programa a gente fica sabendo quanto vai durar cada peça, e até qual é a orquestração de algumas delas; esses numerinhos e letrinhas (3.2.2.2-4.3.3.1-timp-perc-cordas) se referem à composição da orquestra, neste caso seriam 3 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes + 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, 1 tuba + tímpanos + percussão + cordas).
Gostei de saber qual a instrumentação, apesar de ter certeza de o programa ter sido elaborado por alguém sem muita experiência (tenho a impressão de que cataram as informações de alguma tabela de ensaios e mandaram publicar do jeito que estava lá!). O português, como sempre, sofre... G Verdi, G Bizet, A Borodin, etc, etc, etc... Acho que usaram todos os pontos disponíveis para especificar a orquestração e não sobrou mais nenhum para o resto do trabalho. Deve ter sido isso mesmo que aconteceu, pois faltou também ":" depois de Regente. Ah, ainda tem Villa Lobos sem hífen!
Secretaria do quê, mesmo? Cultura? Ah... ainda bem...
Quer continuar? Que saber do pior? Eu te enganei! Esses programas são do ano passado! Depois de maio de 2013 não aconteceu mais nada na Orquestra, parece. Ó só a programação para março de 2014:
Esta extensa agenda cultural também irá se repetir em abril, maio, junho, julho, etc, etc, etc...
Tem base?
Ó só a programação da Orquestra Sinfônica Brasileira, AQUI. Ou a programação da OSESP, AQUI. Não vou nem falar da programação de orquestras do "mundo civilizado", para não ficar com mais vergonha ainda! E isso porque eu nem comecei a reclamar da "maravilhosa" facilidade em se adquirir ingressos para o Teatro Nacional: leve dinheiro. Vamos comprar entradas para a família inteira assistir a um showzinho básico a 200 reais por cabeça? Eu, minha cara-metade, meus 3 filhos, mais a minha cunhada com o filho, que também querem ir, mais a chata da minha sogra: 8 x 200 = 1.600 reais na carteira. Prático, não é? E só vale se for ao vivo! Se você morar em Brazlândia, meus pêsames! Terá que enfrentar algumas dezenas de quilômetros para conseguir comprar um mísero ingresso!
E depois dizem que eu é que sou chato. Tá certo, confesso, sou chato mesmo, mas eu ser chato não significa que Brasília não mereça uma Secretaria de Cultura com mais "ltura" e menos "c..."
Minha série "Estilistas na fase oral" está se estendendo mais do que eu havia imaginado, e meu s... precisa de um certo alívio antes de voltarmos a esse assunto.
O s... está cheio, mas a cabeça está vazia para novos assuntos. Portanto, caso um dos meus 2,5 leitores (Poizé... perdi um leitor recentemente... Bons tempos aqueles em que este blog tinha 3,5 leitores...) tenha alguma sugestão a sugerir, sugiro que a(s) faça o quanto antes, se alguém algum dia ainda quiser ler mais alguma coisa por aqui.
Se sua cabeça estiver tão vazia quanto a minha (uma impossibilidade física!), o jeito será aguardar meu cérebro voltar a funcionar..
Tive que voltar ao assunto daquele post, pois havia me esquecido de algo que não poderia ter faltado, os lundus, um dos ritmos trazidos de Angola e que, junto com outros, tanto importados quanto criados aqui, deu origem ao nosso samba. O Mário de Andrade, além de escritor, também entendia muito sobre música (até escreveu a primeira história da música brasileira de que tenho notícia - Pequena História da Música Brasileira - além de vários outros livros sobre música), e em 1938 realizou um grande expedição para coletar material folclórico do Norte e do Nordeste. Vamos ouvir, então, um dos lundus recolhidos por Mário, meu mais novo amigo, numa gravação, obviamente, recente:
Descobri que só recentemente todo este material - que esteve guardado por quase 80 anos - foi finalmente analisado, separado, catalogado, e, surpresa!!!, lançado pelo SESC-SP, numa coleção de 7 CDs! Estou DOIDO ALUCINADO para comprá-la!
Se alguém quiser adquirir a coleção (aproveite e compre dois exemplares!), o link é este AQUI!
O Villa-Lobos, como não podia deixar de ser - já que ele também vivia viajando para recolher música folclórica e indígena - escreveu ao menos um lundu - só conheço este mesmo - o Lundu da Marquesa de Santos:
Minha flôr idolatrada
Tudo em mim é negro e triste
Vive minh'alma arrasada Ó Titilha
Desde o dia em que partiste
Este castigo tremendo
já minh'alma não resiste, Ah!
Eu vou morrendo, morrendo
Desde o dia em que partiste
Tudo em mim é negro e triste
Vive minh'alma arrasada, Ó Titilha!
Desde o dia em que partiste
Tudo em mim é negro e triste
Este castigo tremendo, tremendo.
Minha flôr idolatrada
Tudo em mim é negro e triste
Vive minh'alma arrasada Ó Titilha
Desde o dia em que partiste
Este castigo tremendo
já minh'alma não resiste, Ah!
Eu vou morrendo, morrendo
Desde o dia em que partiste
Ó titilha
Aqui vai a versão para orquestra (até onde eu saiba, o original é para piano e voz):
E uma versão para violão, que eu prefiro à essa daí de cima:
A gravação mais interessante que encontrei é, por incrível que pareça, Argentina:
As cantoras e cantores brasileiros têm a mania - errada, na minha opinião - de achar que estão cantando Verdi. Ó só:
Pausa para Crítica
O poema que eu coloquei lá em cima foi retirado desse vídeo que acabamos de ouvir, e eu o coloquei (o poema) com erro mesmo, de propósito. Depois o povo acha que eu sou muito chato quando reclamo da falta de cuidado ao se realizar as coisas por aqui. O refrão "Ó Titilha" (que aparece também como "ó titilha" lá em cima) na verdade é "Ó, Titília", o tratamento carinhoso dado a Domitila de Castro Canto e Melo - a Marquesa de Santos. Nem para transcrever o texto direito tiveram cuidado... E depois reclamam da qualidade da educação no Brasil... A culpa, pelo visto, é sempre dos outros!
Fim da Pausa
Enfim... essa gravação daqui de baixo pelo menos é interpretada por um homem, o que faz muito mais sentido, já que é um canção de D. Pedro para a Marquesa de Santos, umas das três músicas compostas por Villa-Lobos para a peça teatral A Marquesa de Santos, de Viriato Corrêa:
Mais uma gravação "verdiana" para o lundu, esta recém-saída do forno (2012), por obra e graça de professores do Departamento de Música da Unb:
2ª Pausa para Crítica
Uma das coisas que "adoro" nessa gravação made in Brasília é o "respeito absoluto" pela pianista! Ela aparece no vídeo pelo tempo "enormemente gigantesco" de 22 segundos. Eu contei! Pode ouvir de novo, se quiser tirar a prova. Ela aparece no vídeo entre as marcas de 2:23 e 2:45, e, mesmo assim, como figurante... Além de faltar educação também falta educação, por parte de quem quer que tenha sido o responsável pelo vídeo: aluno da cantora? marido da cantora? cinegrafista(???) contratado para o evento? alguém da platéia?
Cada dia que passa eu faço mais inimigos aqui em Brasília. Ou melhor, faria, se alguém lesse este blog, além dos meus 3,5 leitores de sempre. Ainda bem que eu já passei da fase de me importar muito com isso...
Fim da 2ª Pausa
E agora eu me cansei de cantores "villa-lobísticos-verdianos" e nem vou colocar mais outro vídeo, como tinha planejado. Grrrrrrrrrr-au-au!
Para terminarmos por hoje: se alguém tiver curiosidade em saber quais são as outras músicas do Villa para A Marquesa de Santos, elas são: Gavotta-Choro, que já ouvimos neste post, mas que vai de novo aqui:
(Por falar em "a qualidade da educação", gostou da minha frase com três ":" daí de cima?)
E a terceira é a Valsinha Brasileira, da qual só encontrei um versão para banda sinfônica. Em todo caso, aqui vai ela:
E chega, pois este PeÉsse já está grande demais, e eu já perdi a paciência... Até a próxima, e
Depois de A 2 é bom!, que eu postei há séculos, já estava mais do que na hora de chamarmos mais um parceiro e experimentarmos algumas outras cositas más que podem "se assuceder" em qualquer câmara que se preze.
Não falarei de trios compostos antes do período Clássico porque, como todo mundo já viu aqui no blog, um trio não necessariamente era composto de 3 músicos... Podia ser 4, 5, 6, e apenas durante o Classicismo é que trio passa a significar, literalmente, 3.
Mesmo assim, como também já vimos por aqui, o trio clássico começou como 1+2 (piano + dois instrumentos quaisquer), onde os 2 só estão ali para alegrar o 1, para que ele não se sinta muito sozinho. O Trio em sol maior, Hob. XV/25, do meu grande amigo Joseph Haydn, porém, já merece o rótulo de "Trio de verdade":
Delicioso! O terceiro movimento parece um cachorro perseguindo o próprio rabo! Poderíamos passar o post inteiro ouvindo só Haydn. Só de trios tem mais de 40! Eu adoraria, mas temos que seguir com nossa jornada câmara adentro.
Não dá para pensar em Haydn sem automaticamente me lembrar de Mozart (eu e todo mundo, claro), mas não falarei dele, hoje, porque todo mundo já sabe que ele faz tudo direito (inclusive a 3). Também vou deixar o Beetho de fora, e partir para outros trios posteriores, pois já ouvimos um de seus trios em A 2 é bom! (um movimento só), e todo mundo conhece todos os restantes, claro... Não conhece? Não faz mal! Algum dias trataremos do Beetho num post exclusivo - talvez!
Um dos trios pós-Beethoven mais famosos é o Trio em mi bemol maior, para Violino, Violoncelo e Piano, Op. 100, D. 929, do Schubert. Todo mundo o conhece, e todo mundo gosta. Até os vampiros gostam dele, apesar de o Trio lhes ter sido apresentado numa versão muito reduzida, onde até a melodia é levemente simplificada, não me pergunte o porquê:
O movimento inteiro é esse aqui:
Todo mundo que gosta de música clássica conhece este Trio, mas, caso alguém tenha estado embaixo de alguma pedra quando o Schubert passou por perto, aqui está a obra completa:
Depois desse exemplo ficou difícil continuar com o assunto... Quase todos os outros trios, agora, vão parecer meio "nhém-nhém".
Pausa para tirarmos o Schubert das orelhas
Você sabia que a palavra trio, em música, pode designar outras coisas também? Não é nenhuma novidade, porém, já que tudo em música é uma bagunça. O nome trio pode ser dado - e é - ao trecho intercalado, por exemplo, entre as duas repetições de um minueto (entre outras danças). Ó só o Minueto e Trio em sol maior, WoO 10, nº 2, do Beetho:
(Tá bom, eu sei, eu acabei falando sobre o Beetho. Mas foi algo muito bobo; nem valeu...)
Ó só também o Scherzo e Trio, da Sonatina para Violino e Piano, Op. 100, do Dvorák:
Ou o Scherzo e Trio, da Sonata nº 3, em dó maior, Op. 2, nº 3, do Beetho (ó ele de novo aqui!). E está certa a numeração, ok? Ela é a sonata nº 3 (da série de 32 sonatas do Beetho), e também é a peça nº 3 dentro do Opus nº 2; portanto, "nº 3, op. 2, nº 3":
Essas gravações não são lá grandes coisas, mas pelo menos servem ao propósito de mostrar trios que não são "Trios", e para esvaziarmos nossos ouvidos.
Fim da Pausa
Estamos agora prontos - espero - para voltarmos ao assunto de antes, e ouvirmos novamente o terceiro movimento do Trio do Schubert de lá de cima, caso alguém tenha deixado de notar que esse Trio também tem um trio em seu terceiro movimento (Scherzo e Trio). O Trio do Trio começa em 2:59 e vai até 5:22 (é... o Trio é maior que o Scherzo!):
Ufa... Chega de Schubert!
Tá na hora de ouvirmos outro grande trio para violino, cello e piano, o Trio nº 1, em ré menor, Op. 49, do Mendelssohn. Por falar nisso, os trios para piano piano, cello e violino são conhecidos - obviamente - como trios com piano, para diferenciá-los de outras combinações de instrumentos. Se não for exatamente esta formação, eles terão nomes diferentes, como, por exemplo, Trio para Piano, Trompa e Violino, Trio para Cordas, Trio para Flauta, Clarineta e Fagote, etc, etc, etc. Trio com Piano refere-se sempre a piano+violoncelo+violino. Mas, voltando ao Mendelssohn: segurem-se às suas cadeiras, principalmente durante o primeiro movimento, pois dá uma vontade louca de sair correndo pela sala arrancando todos cabelos (inclusive os da cabeça!):
O Mendelssohn também tem o Trio com Piano nº 2, em dó menor, Op. 66, mas que não é tão espetacular quanto o primeiro, eu acho. Apesar disso, seu 1º movimento é maravilhoso! Tente prestar atenção na música e não no "Trio de cabelinhos iguais", que dá um pouco no meus nervos:
Caso você não tenha saído correndo ainda, vou dar lhe mais uma chance! Trio com Piano nº 4, em mi menor, Op. 90, "Dumky", do Dvorák, que, diferentemente da maioria dos Trios, tem 6 movimentos. E, olha só, é com um grupo lá de Curitiba!:
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Ainda está aí? Então vamos ouvir o Trio com Piano, em lá menor, do Ravel, numa ótima gravação:
Lindo!
Da mesma época (só que de quase 30 anos antes), temos o Trio com Piano, em sol maior, L. 3, do Debussy. Muito mais simples que o do Ravel, mas tem seu charme:
Num outro mundo, completamente diferente (geograficamente, inclusive), está o Trio com Piano do americano Charles Ives, mais ou menos da mesma época que o do Ravel que ouvimos há pouco. Apesar de sua relativa estranheza, é, em minha opinião, um grande Trio:
Outro grande Trio mais recente é o Trio com Piano nº 2, em mi menor, Op. 67, do Shostakovich. Tão melancólico, tão fantasmagórico, tão lindo:
Na categoria "estranho" também está Mozart: Adagio para Trio, do Arvo Pärt. Não é estranho com relação ao som, mas sim à concepção, pois é uma "versão" (Releitura? Adaptação? Deturpação? Sei lá, depende de quem ouve) do segundo movimento de um concerto para piano do Mozart:
Eu gosto bastante, confesso, e gosto mais a cada vez que o ouço novamente!
Para quem não conhece (e tem preguiça de procurar no IúTúbi), o Mozart é este aqui, o segundo movimento do Concerto para piano e orquestra nº 23, em lá maior, K. 488. Pode chorar que eu deixo!:
Outro ilustre desconhecido é o suíço (depois naturalizado americano) Ernest Bloch, que escreveu um Trio com Piano. Eu, porém, prefiro seus Três Noturnos para Trio:
Quer mais um desconhecido? Vamos, então, com um Trio recém saído do forno, o fantasmagórico (mais um para a coleção!) Trio com Piano nº 2, do argentino Maurico Kagel, de 2001:
Hoje teremos que ficar só no repertório piano+cello+violino, que, como já deu para notar, é imenso!, mesmo sem termos falados dos Trios de Brahms, Schumann, Tchaikovisky, Rachmaninoff, Chopin, etc, etc, etc. Terminemos, como temos terminado ultimamente, com música brasileira.
Edmundo Villani-Cortês, e suas Cinco Miniaturas Brasileiras. Existem versões diferentes para esta obra (para dueto; para quarteto; orquestra; quarteto com clarineta; quarteto com periquito, panela de pressão, zíper e buzina - exagero meu, claro, mas tá perto disso). Vamos ouvi-la, claro, na "encarnação do dia":
Não podemos deixar de fora o Villa-Lobos, claro! Ainda bem que encontrei, pelo menos, seu Trio com Piano nº 2, mas em pedaços, infelizmente:
1º movimento:
2º movimento:
3º movimento:
4º movimento:
É sempre um problema encontrar música clássica brasileira (em vídeo, em CDs, em partituras), mas vou tentar encontrar algo mais. Espere só um pouquinho!
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Ufa, encontrei o Trio do César Guerra-Peixe:
Também encontrei o Trio do Osvaldo Lacerda. Aqui vai o primeiro movimento:
E o segundo movimento:
O chato (eu!) acha que, se você tiver preguiça de ouví-lo, não vai fazer muita falta, pois a música, sinceramente, não me parece grandes coisas. Mas um pouco da culpa pode ser dos intérpretes: o segundo movimento, principalmente (na minha opinião), deveria ser bem mais rápido, mais "nervoso", menos "moinho de vento" e mais "pistão de motor", se é que dá para entender o que eu quero dizer!
Então chega por hoje, pois já estamos todos cansados. No próximo capítulo veremos (e ouviremos) Trios para outras combinações de instrumentos. Só para ficarmos com um gostinho de quero mais (espero que fique!), vamos ouvir o primeiro movimento do Trio para Piano, Violino e Trompa, Op. 40, em mi bemol maior, do Brahms. Só ele mesmo para conseguir fazer uma combinação dessas parecer tão natural:
Deve ser bom pensar nas coisas enquanto elas ainda fazem sentido! Um dia talvez eu consiga... Mas não foi dessa vez! Como é que eu deixei o Carnaval passar em branco?
Enfim... Antes tarde do que mais tarde.
Aproveitemos, portanto, que eu também ando sem ideias para assuntos postísticos, e vamos ouvir um pouco de músicas carnavalescas, começando, como não podia deixar de ser, em Veneza, com as variações Carnaval de Veneza, Op. 10, do Niccolò Paganini, baseadas numa cançãozinha popular napolitana (até onde eu sei), "Cara mamma mia", que todo mundo conhece em português com o versinho inicial "O meu chapéu tem três pontas":
E OCarnaval de Veneza, para trompete e orquestra, do Jean-Baptiste Arban, sobre a mesma canção:
Caso você ainda não esteja de saco cheia dessa cançãozinha, aqui vai mais uma encarnação da criatura, as variações Souvenir de Paganini, B. 37, do Chopin:
Tinha que colocá-las aqui mas, venhamos e convenhamos, ô coisinhas chatas... O Chopin é menos pior, na minha opinião, porque é mais curto, as variações são contínuas, e o acompanhamento não muda nunca, dando oportunidade para Chopin fazer uma das coisas que ele faz melhor que qualquer um: enfeitar melodias. Essas variações me lembram outra obra sua, Berceuse em ré bemol maior, Op. 57, também em forma de "variações ininterruptas", mas infinitamente melhor que Souvenir - é o "Tratado Universal do Enfeite", digamos assim, construído sobre 68 compassos absolutamente iguais, na mão esquerda:
Mas votemos ao assunto antes que eu enverede por outros caminhos.
Para contrabalançar "issos" daí de cima (menos a Berceuse), vamos ouvir outro ciclo de peças que, apesar de não serem, tecnicamente, variações, são baseadas sempre nas mesmas sequência de notas:
- A - S - C - H (Lá, Mi bemol, Dó, Si, em alemão);
- Sua variação S - C - H- A (Mi bemol, Dó, Lá, Si); e
- As - C - H (Lá bemol, Dó, Si)
Com vocês, o espetacular, maravilhoso, estupendo, fantástico - e ridiculamente difícil, em todos os níveis possíveis - Carnaval, Op. 9, que Robert Schumann compôs quando era um "velhinho" de 25 anos:
Eu não disse que era lindo? Credo! Dá vontade de chorar de tão espetacular! Vai ser maravilhosos assim lá em casa!!!! Se Schumann tivesse composto só isso já teria garantido um lugar no panteão dos sub-gênios!
E agora, depois desse Carnaval, teremos que voltar para o ziriguidum básico... Schumann também tem outro ciclo, Cenas do Carnaval em Viena, Op. 26, que inclusive cita passagens do Carnaval, Op. 9, mas que nem se compara ao Carnaval "de verdade". Nem o Murray Perahia consegue fazer com que fique muito interessante:
Também tem a Rapsódia Húngara nº 9, em mi bel maior, S. 244/9, do Franz Liszt, conhecida como Carnaval em Peste:
Mas é sempre um problema colocar qualquer coisa depois do Carnaval do Schumann, como vocês notaram... Então chega de piano, por hora, e vamos para o orquestra sinfônica, começando com Hector Berlioz e sua abertura Carnaval Romano, Op. 9, que tem esse nome por ser um pout-pourri de sua ópera Benvenuto Cellini, onde há cenas que se passam durante o carnaval:
Na mesma categoria "música divertida mas inócua, para iniciar um concerto" (na minha opinião, claro!, mas eu estou sendo muito chato - como sempre - pois a utilidade dessas "aberturas de concerto" é essa mesma), está outra abertura, Carnaval, Op. 92, do Antonín Dvorák.
Quer ouvir ainda outra abertura? Tem também a abertura da ópera Maskarade, do Carl Nielsen, sobre um casalzinho que se conhece durante um baile de máscaras, mas não encontrei um vídeo da cena propriamente dita. Vai, então, só a abertura:
Aliás, um outro casalzinho que se conhece durante um baile de máscaras é justamente o mais famoso deles, Romeu e Julieta, apesar de que geralmente se esquecem das máscaras nas montagens... A música para o balé, do meu amigo Prokofiev, é simplesmente maravilhosa, e a música para o baile em si é uma de suas peças - merecidamente - mais conhecidas. Eu resolvi colocar o balé inteiro porque tudo é lindo! O baile, para quem quiser ir direto a ele, começa em 28:00, e a música, até então propositadamente meio sem-gracinha, de repente mostra que a tragédia está rondando ali por perto. A versão deste vídeo é linda (do impecável Royal Ballet), e ainda tem, de brinde, um Romeu negro, o cubano Carlos Acosta, e um brasileiro, Thiago Soares, no papel de Tybalt:
Lindo demais, sô! De arrepiar!
Atualização: como notaram, o vídeo foi removido do YT... Mas sobrou um vídeo da cena em questão, da mesma montagem do Royal Ballet:
Cenas que se passam durante bailes de máscaras aparecem de vez em quando em óperas, como já vimos, sendo que a mais famosa delas chama-se justamente Un Ballo in Maschera, de outro amigo meu, Giuseppe Verdi. Aqui, o final da ópera, durante o tal baile:
Também tem a opereta Carnaval em Roma, do Johann Strauss II, que praticamente sumiu nas areias do tempo e que, a julgar pela abertura, já sumiu tarde. Nem vou colocá-la aqui, pois acho que não vale a pena. Quem quiser, procure no IúTúbi.
E chega de ópera. Pulemos para um gênero que não vimos aqui hoje, música de câmara, e vamos ouvir um dos carnavais mais famosos, a suíteO Carnaval dos Animais, com seus movimentos-animais :
1 - Introdução e Marcha Real do Leão;
2 - Galinhas e Galos;
3 - Antílopes (animais velozes);
4 - Tartarugas;
5 - O Elefante;
6 - Cangurus;
7 - Aquário;
8 - Personagens com Longas Orelhas;
9 - O Cuco nas Profundezas do Bosque;
10 - Pássaros;
11 - Pianistas;
12 - Fósseis;
13 - O Cisne;
14 - Final.
Interessante (?) notar que Saint-Saëns incluía pianistas como animais. Mas eu nem ligo; adoro estar entre eles! Claro que no trecho "Fósseis" há uma clara referência (apesar de muito curta) à ópera - além de referências a várias outras músicas - mas os "fósseis-cantores" nem notam, e um deles, certa vez, ficou bravo(a) comigo pois eu, um animal-pianista, tinha notado algo muito pouco lisonjeiro a eles. Enfim...
Mas, antes, vamos ouvir uma musiquinha muito conhecida, da opereta Orfeu no Inferno, do Jacques Offenbach...
... para podermos nos divertir mais com o 4º movimento do Carnaval dos Animais, "Tartarugas":
Bonitinho demais!
E, para quem quiser saber de onde vem a "gozação" com os cantores, em "Fósseis", é uma citação de uma das árias mais famosas de todos os tempos, "Una voce poco fa", da ópera O Barbeiro de Sevilha, do Rossini:
Saint-Saëns também cita isso aqui, em "Fósseis":
Eu não tinha ideia de que essa musiquinha fosse tão antiga antes de ter ouvido pela primeira vez ao Carnaval dos Animais! Aliás, essa musiquinha na verdade é originalmente francesa ("Ah, vous dirai-je, Maman"). Outra descoberta: existe até um ciclo de variações do Mozart sobre esta cançãozinha (KV 265):
E lá vou eu, enveredando para outro caminho... Voltemos para a folia!
Agora, finalmente, a suíte inteira. Ah, um aviso: o trecho "Pianistas", nesta gravação, é divertidíssimo. Saint-Saëns especifica, claramente, que é para os pianistas o tocarem como se estivessem estudando escalas, e é por isso que parece tudo desencontrado e inseguro, no vídeo. Talvez tenham exagerado um pouco, mas é divertido:
Adoro essa suíte! É, para mim, um dos grandes exemplos de música leve, divertida, sem grandes pretensões, mas que cumpre exatamente aquilo a que se propõe, e está entre as coisas mais felizes que existem no mundo. Está triste, melancólico, cabisbaixo, sorumbático? Vá ouvir essa música que passa!
Para terminarmos por hoje, antes que, de novo, este post vire um livro, um pouquinho do carnaval brasileiro, que não poderia faltar aqui. Primeiro, "O Polichinelo", da suíte A Prole do Bebê nº 1, do Villa-Lobos. Não é exatamente "carnaval", mas serve, e é uma gravação muito antiga, cheia de chiados, mas que vale a pena, pois Guiomar Novaes sempre vale a pena:
Carnaval "de verdade" é o Carnaval das Crianças, também do Villa-Lobos, com seus movimentos:
1 - O Ginete de Pierrozinho;
2 - O Chicote do Diabinho;
3 - A Manhã de Pierrette;
4 - Os Guizos do Dominozinho;
5 - As Peripécias do Trapeirozinho;
6 - As Traquinices do Mascarado Mignon;
7 - A Gaita de um Precoce Fantasiado;
8 - A Folia de um Bloco Infantil.
Ah, me lembrei de que também há outra peça do Villa-Lobos, Momoprecoce, para piano e (enorme) orquestra, a mais "carnavalescas" de todas:
Então chega por hoje, né? Ano que vem, se eu me lembrar a tempo, futucaremos outras coisas para passarmos juntos o carnaval.
Na vespassada acabei estendendo o post demais - como sempre - e ficamos só na música vocal de câmara, sem tempo para sequer começarmos a tratar da música vocal de teatro.
Este vai ser mais um postinútil, pois não existe nada mais conhecido do que a ópera do século XIX. Excetuando Mozart, 99,99999% (sem exagero!) das óperas que ouvimos são desse período, desde as mais "populares" (como O Barbeiro de Sevilha, do Rossini), às mais "esotéricas" (como A Noiva Vendida, do Bedrich Smetana).
Vamos, então, tentar descobrir o que mais existe de música vocal de teatro além de ópera, já que todo mundo conhece tudo a esse respeito (ópera). E, quer saber? Não é que há um repertório de música vocal de teatro e que não é ópera? Poizé! Ah, aviso aos net-navegantes: este post, se você quiser ouvir todas as obras, vai render umas 20 horas de música. Estão avisados!
Começo, portanto, com um dos meus favoritos, o Robert Schumann, e seu oratório Das Paradies und die Peri, op. 50, baseado numa lenda da Índia. Aqui, só uma "palhinha" - o final:
Quem se aventurar a enfrentá-lo todo, cá está a versão integral, cujo libreto (no original alemão, e mais versões em francês e italiano) pode ser lido AQUI:
Um dos gêneros de música para teatro bastante comuns no período é aquele de música para teatro: música (vocal e/ou instrumental) para acompanhar apresentações teatrais, gênero conhecido como música incidental. Dois dos exemplos mais famosos são Rosamunde, D. 797, do Franz Schubert, para uma peça de Helmina von Chézy (famosa quem???), e Sonhos de Uma Noite de Verão, op. 61, do Felix Mendelssohn-Bartholdy, para a peça de Shakespeare (esse eu conheço!).
Ambas - assim como a música incidental para a peça Egmont, do Goethe, composta pelo Beetho - têm trechos vocais, apesar de que, em 99,999999% das apresentações e gravações, apenas os trechos instrumentais são executados, não me pergunte o porquê...
Esse é um gênero que praticamente morreu, infelizmente, e os exemplos que sobrevivem só conseguem fazê-lo aos pedaços. Sonhos... é um dos que melhor sobrevivem, pois TODO MUNDO conhece ao menos um de seus trechos, a mega-ultra-hiper-super famosa Marcha Nupcial:
Descobri uma versão integral, com TUDO!!!! Lindíssimo! Não sei por que quase nunca a apresentam na integral:
(Não encontrei o texto, saco...)
De Rosamunde geralmente só se ouve a abertura, assim como também só se ouve a abertura para o Egmont, que, alías, é linda:
Achei uma versão integral do Egmont, mas também sem texto:
L'Arlésienne, do Georges Bizet, música incidental para a peça de Alphonse Daudet (famoso quem???), sobreviveu apenas como suíte orquestral, e os trechos vocais (solistas e coro) desapareceram nas areias do tempo; nem no IúTúbi eu consegui descobrir uma versão integral. Terei que sair provisoriamente do assunto "música vocal" e adicionar só o vídeo das 2 suítes que costumam ser apresentadas:
O século XIX era completamente fascinado por ópera e pela sinfonia, e estes dois gêneros dominam o repertório de música para teatro. Das cantatas e oratório seculares, das músicas incidentais para peças teatrais, pouco restou, como já vimos. A música vocal para teatro não-operística que melhor sobrevive é, estranhamente, aquela mais difícil de classificar, habitando uma zona nebulosa entre a sinfonia, a ópera, e o oratório, como La Damnation de Faust, op. 24, do Hector Berlioz, sobre o Faust, do Goethe, composta para grande orquestra, solistas, grande coro, e mais coro infantil.
Geralmente La Damnation é apresentada em versão de concerto, mas também pode ser - e é - apresentada como ópera:
Outra obra sua que ainda sobrevive é a sinfonia coral Roméo et Juliette, op. 17, para coro e orquestra, que eu adoro!:
Na mesma categoria - sinfonia coral - está a Sinfonia Fausto, S. 108, do Franz Liszt (ó o Fausto aqui de novo, gente!), para orquestra, tenor, e coro, onde cada um dos três movimentos é dedicado a um personagem: Fausto, Gretchen, e Mefistófeles. Eu também adoro!:
Aproveitando o fascínio que o século XIX tinha tanto por óperas quanto por canções de câmara, o meu amigo Berlioz resolveu orquestrar seu ciclo de canções Les Nuits d'Été, op. 7 (originalmente para piano e voz) e inaugurar mais um gênero - canções com orquestra (geralmente em ciclos) - transformando um evento simples e corriqueiro (canções para piano em voz) em grande espetáculo teatral. Essa transformação, na verdade, só vai dar seus melhores frutos a partir do final do século XIX, e a maioria dos exemplos que conheço, antes de 1880, são de versões orquestradas de "originais" para piano e voz. Não deixam de ser lindos, porém!
Les Nuits d'Été:
(Os poemas - original francês e outras versões - estão AQUI)
No "past post" eu me esqueci de incluir um dos meus ciclos de canções (para voz e piano) favoritos, o Wesendonck Lieder, do Richard Wagner. Lembrei-me dele agora pois sua última canção, "Träume", também foi orquestrada, pelo próprio Wagner:
A versão em inglês do original em alemão é esta:
Tell me, what kind of wondrous
dreams
are embracing my senses,
that have not, like sea-foam,
vanished into desolate Nothingness?
Dreams, that with each passing hour,
each passing day, bloom fairer,
and with their heavenly tidings
roam blissfully through my heart!
Dreams which, like holy rays of
light
sink into the soul,
there to paint an eternal image:
forgiving all, thinking of only One.
Dreams which, when the Spring sun
kisses the blossoms from the snow,
so that into unsuspected bliss
they greet the new day,
So that they grow, so that they
bloom,
and dreaming, bestow their
fragrance,
these dreams gently glow and fade on
your breast,
and then sink into the grave.
Posteriormente várias versões orquestrais surgiram para o ciclo inteiro, por obra e graça de outros compositores, como a versão de Felix Mottl. Os vídeos para todas as 5 peças do ciclo estão neste link:
Lindos! Lindos! Mas teremos que esperar até o final do século para encontrarmos ciclos de canções concebidas originalmente para orquestra e voz(es). Mas a espera valerá a pena, pois teremos, então, a chance de ouvirmos coisas espetaculares!
Para encerrarmos o assunto de hoje, vou ter que voltar atrás na minha decisão de não colocar nada de ópera neste post e de sempre tentar colocar coisas menos conhecidas, pois não resisti à tentação de incluir o final de Tristão e Isolda, do Wagner, que todo mundo conhece, claro. Mas vale a pena repetir a experiência:
Assustador de tão lindo!!!!!!
E uma versão (com a mesma cantora, Waltraud Meier) mais antiga, com os 15 minutos finais da ópera para contextualizar um pouquinho a história, também com legendas:
Adorei um dos comentários ao vídeo: "It is in these rare moments of time that I am really proud to be a human being."
E agora vou ter que sair correndo para assistir à ópera toda. Até a próxima, pessoal!
Poizé... Fui, junto com alguns amigos, assistir à Barca di Venetia per Padova, apresentada no CCBB. Uma espécie de "ópera de madrigais": uma sequência de madrigais polifônicos que, quando apresentados juntos, contam uma história. Essa a que assistimos é de autoria de Adriano Banchieri.
Minha opinião, caso interesse a alguém: a música é bonita, sem chegar a ser excepcional (Nada contra. Adoro filmes B, por exemplo!). Mesmo assim, não deu para entender direito o que a música realmente é, por alguns motivos:
- Era para contar uma história, não era? Portanto, a presença de um libreto, na minha opinião, seria indispensável. Ao invés de gastarem 4 páginas com a foto dos músicos, por que não imprimiram, em seu lugar, o texto dos madrigais? Ao invés disso, apenas uma foto (enorme!), que ficou parecendo poster de time de futebol (e tão útil quanto, se você não torcer para esse time específico). Aproximadamente 40 minutos de música, onde você conseguia distinguir apenas uma outra palavra solta, acompanhada por 40 minutos de vídeo projetado sobre uma tela - o que pode ser até interessante. Mas, se já tinha um vídeo, por que não colocaram legenda no próprio vídeo? Tá certo que, à essa altura do campeonato - por falar em futebol - ninguém mais precisa de legenda para, por exemplo, Carmen, do Bizet. Mas Barca..., venhamos e convenhamos, não está entre as 10 mais conhecidas. Se é para apresentar coisa nova à platéia (apoio sempre essa iniciativa!), faça direito!
- Mais "importantemente": musicalmente também não convenceu. Andamentos todos muito similares (alguns muito lentos, inclusive), fazendo quase todos os madrigais soarem muito parecidos. Acompanhamento instrumental carregado demais, também sem muita variação, o que também ajudava a fazer tudo soar igual.
- 95% dos madrigais foram interpretados como uma grande comédia. Obviamente era uma comédia, mas, mesmo assim, comédia + comédia + comédia + comédia + comédia + comédia (geralmente é) = caricatura. Juro que eu ficava o tempo todo me lembrando do filme O Máscara, com o Jim Carey: ao invés de um festival de caras e bocas, tivemos um festival de vozes forçadamente distorcidas o tempo todo, principalmente da primeiro soprano, a ponto de ficarmos em dúvida - eu fiquei, pelo menos - se a voz dela era feia mesmo ou se era apenas "forçação de barra" em excesso.
Na minha modesta (???) opinião, esqueceram da música em si... Deve ter sido muito divertido montar o espetáculo, e me pareceu claro que os músicos estavam se divertindo. O resultado, porém, ficou parecendo (de novo: para mim, ao menos) meio mal-pensado, tipo "Vamos fazer assim porque é divertido, e vamos colocar nosso instrumentos renascentistas chiques tocando o tempo todo, pra ficar mais legal", sem nenhuma razão musicalmente mais profunda para os excessos. Me fez lembrar da Cida Moreira e sua interpretação "palavra a palavra", que também acho caricata e excessiva:
Mais uma crítica: a chamada do espetáculo era "O diferencial da montagem é a contextualização da música renascentista com o olhar da estética contemporêna". Contextualização? Estética contemporânea? Eu devo ser muito burro, pois não notei nada disso... a não ser que 10 minutos de vídeo mostrando uma estrada seja um tipo de "contextualização": vai ver deram um upgrade no barquinho e ele virou um ônibus, e agora é possível fazer o trajeto de Veneza a Pádova por terra, sei lá...
Nota final: 7. Nota 10 pela decisão de se fazer algo diferente (eu sempre reclamo que aqui em Brasília temos pouquíssimas oportunidades para isso!), mas nota 4 pela execução da ideia (o que também é recorrente em Brasília: ideias ótimas, execuções descuidadas).
Enfim... Como eu já disse inúmeras vezes, eu sou chato demais!
Pra terminarmos, e para mostrar que, apesar de a música não ser fantástica, podia ter sido um espetáculo muito melhor, alguns vídeos. Notem, principalmente, as grandes diferenças de um madrigal para outro - diferenças no tratamento vocal, instrumental e interpretativo - resultando em algo MUITO mais interessante:
Versão encenada, com legendas em francês (só para o narrador, infelizmente):
E uma versão em concerto (imagino que seja, pois não tem imagem nenhuma), que eu gosto mais, musicalmente falando. Ouça e me diga o que achou! E se você ouvir até o final ganha de brinde o madrigal Zefiro torna, do meu grande amigo Claudio Monteverdi:
Pe-Ésse: Não descobri o texto dos madrigais em lugar nenhum...
Pe-Ésse 2: Uma leitora (entre os 3,5 que costumam ler este blog) descobriu o libreto, em formato do Word, AQUI. Obrigado!